A DEGRADAÇÃO MORAL DO PODER POLÍTICO

Por Francisco Gonçalves • Série "Contra o Teatro da Mediocridade"

Portugal vive hoje um colapso silencioso: o colapso moral da sua classe política. Já não é apenas a incompetência que assusta — é a ausência de decência, de vergonha e de ética. O poder, que devia ser serviço público, tornou-se um banquete privado, uma feira de vaidades e um campo de trocas obscuras.

O Poder que se Autoalimenta

Os partidos deixaram de ser instrumentos de representação e tornaram-se máquinas de sobrevivência. Funcionam como corporações fechadas, onde o mérito é uma ameaça e a lealdade ao chefe vale mais que a competência. Dentro deles, reina uma lógica tribal: quem obedece sobe; quem pensa é silenciado. E assim se perpetua o poder — não o poder para transformar, mas o poder para permanecer.

A Mentira como Norma de Governo

Hoje, a mentira é o idioma oficial da política portuguesa. Promete-se justiça e governa-se para os poderosos; fala-se em liberdade e pratica-se censura; invoca-se transparência e age-se nas sombras. O político moderno já não precisa acreditar em nada — basta-lhe convencer o eleitor de que acredita. É o triunfo do marketing sobre a moral, da forma sobre o conteúdo, do teatro sobre a verdade.

O Erosão da Confiança

A confiança pública foi destruída. Cada escândalo, cada caso arquivado, cada político apanhado em contradição sem consequências, é uma bala na fé democrática. As pessoas já não esperam honestidade; esperam apenas que o próximo ladrão roube com mais elegância. É a banalização do vício — a normalização da vergonha.

O Espectáculo da Corrupção

O poder político tornou-se um palco de farsas morais: ministros que fingem indignação, deputados que fingem debate, jornalistas que fingem escrutínio. Tudo é representação — uma ópera grotesca financiada com o dinheiro e a paciência dos contribuintes. O povo, esse, assiste cansado, descrente, e cada vez mais afastado das urnas, porque já não vê diferença entre o corrupto e o candidato.

A Urgência da Honra

O que falta a Portugal não são reformas, é caráter. Precisamos de um novo pacto moral, uma refundação ética da política, onde o poder volte a significar dever. Onde governar não seja um privilégio, mas uma responsabilidade sagrada. Onde o exemplo substitua o cinismo e a coragem destrone a conveniência.

Enquanto os governantes se venderem, os eleitores continuarão pobres — de rendimentos e de esperança. Mas um dia, inevitavelmente, a consciência coletiva despertará. E quando isso acontecer, o país não pedirá apenas contas — exigirá dignidade.

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