Portugal: Um povo que lê sem compreender

🕯️ Cidadania à Sombra da Ignorância
"Os factos não deixam de existir por serem ignorados, mas os povos deixam de ser livres por recusarem compreendê-los."
— Hannah Arendt
Quando a literacia de um país é débil, a cidadania fica suspensa — como uma chama que arde sem oxigénio. O cidadão deixa de ser protagonista do destino comum e torna-se figurante de um teatro político manipulado, onde as palavras já não servem para pensar, mas para dominar.
I. O Silêncio da Razão
Em Portugal, quase metade dos adultos lê sem compreender totalmente o que lê. E quando a leitura se torna um gesto automático, a reflexão morre. Nesse vazio intelectual, o populista instala-se como o novo pregador: promete o impossível, acusa o indefinido, repete o absurdo até que pareça verdade.
É nesse terreno árido que a ultra-direita oportunista floresce. Trump, Le Pen, Ventura — são faces diferentes do mesmo espectro: o que transforma o medo em programa político e a ignorância em capital eleitoral.
II. A Democracia Sem Leitores
A democracia vive de leitores. De cidadãos que saibam distinguir uma promessa de uma manipulação, uma política de um espectáculo. Mas o país que não lê, acredita em tudo — ou em nada. E um povo que já não acredita em nada torna-se a presa ideal do primeiro salvador que lhe acene com ordem, pátria e segurança.
Assim se explica a ascensão de figuras que, há uma década, pareceriam caricaturas: porque a cidadania desarmada é como um castelo de areia perante a maré digital da demagogia.
III. Corrupção e Cegueira Moral
A baixa literacia não afecta só o raciocínio — afecta a ética. Quem não é capaz de interpretar um texto complexo dificilmente decifra as subtilezas de um contrato político ou económico. O corrupto prospera porque o eleitor, confuso, não distingue um desvio ético de uma esperteza "necessária". E assim a corrupção deixa de ser um escândalo e passa a ser apenas parte da paisagem.
IV. O Antídoto: Pensar
O verdadeiro antídoto não é mais escolaridade — é mais pensamento. A literacia crítica é o novo acto de resistência: ler, comparar, duvidar, compreender. Cada livro lido com atenção é um voto contra a demagogia; cada conversa esclarecida é um golpe na ignorância organizada.
Um país só será livre quando os seus cidadãos forem capazes de desconfiar dos falsos profetas e reconhecer os verdadeiros servidores da comunidade. Enquanto isso não acontecer, continuaremos a confundir carisma com competência e ruído com liderança.
"A ignorância é o mais barato dos instrumentos de controlo político."
— Augustus Veritas Lumen
© Fragmentos do Caos — Série Contra o Teatro da Mediocridade
📖 Leitura Aconselhada
A cidadãos que se querem livres.
📜 Excerto "Pensar é um ato de amor-próprio. Discordar é, por vezes, o maior gesto de respeito. E resistir, mesmo em silêncio, é nunca deixar que nos roubem a lucidez."