Quando a República se Confunde com o Futebol Crónica crítica à condecoração presidencial e à ideia de que o Presidente deve definir o que os seus sucessores devem adorar. 2025-11-16 Fragmentos do Caos http://www.fragmentoscaos.eu/wp-content/uploads/2025/11/file_000000000ccc71f4bd84f83972cdfb7c.png

BOX DE FACTOS

  • O Presidente da República condecorou o seleccionador nacional logo após uma vitória por 9–1 frente à Arménia.
  • Na cerimónia afirmou: "O seu sucessor só não adora futebol se for distraído".
  • A declaração levanta questões sobre prioridades institucionais, simbolismo político e cultura democrática.

Quando a República se Confunde com o Futebol

"Há frases que revelam mais do que pretendem — e expõem um país que trocou o civismo pela distração."

A Presidência como Palco de Aplausos

O Presidente da República decidiu condecorar o seleccionador nacional logo após um resultado confortável de 9–1 contra a Arménia. Até aqui, nada de novo: a política portuguesa habituou-se a viver entre taças, selfies institucionais e celebrações desproporcionadas. Mas o episódio ganhou outra densidade quando Marcelo Rebelo de Sousa afirmou, no seu estilo habitual de ligeireza moral:

"O seu sucessor só não adora futebol se for distraído."

A frase, dita com ar de graça, tem o peso de tudo aquilo que se normaliza quando ninguém questiona. O Presidente não descreve um gosto pessoal — define um critério para quem o suceder. E fá-lo sem pudor, como se a República fosse uma bancada de estádio e o interesse nacional se medisse em golos.

O País da Bola, Sempre

Portugal é perito em transformar o acessório na essência. Enquanto a economia patina, os jovens emigram, a saúde colapsa e a justiça dorme, a política encontra sempre tempo para o futebol. É o único assunto que provoca consensos fáceis, emoções rápidas e popularidade instantânea. É também o território onde a classe dirigente se sente mais segura — porque nada exige coragem, mudança ou pensamento.

Quando o Presidente define que o seu sucessor "tem de adorar futebol", está a dizer algo mais fundo: que a distracção é virtude pública, que o espetáculo é prioridade, e que a Presidência é extensão emocional das claques nacionais.

O Que a Frase Revela

Não se trata de um deslize inofensivo; trata-se de um sintoma nacional. O Estado português, há décadas, alimenta a ideia de que o futebol é o cimento identitário da pátria. É uma estratégia fácil para esconder a ausência de projecto, de ambição e de visão política.

Uma República adulta não precisa que o seu Presidente adore futebol. Precisa que adore justiça, transparência, conhecimento, educação e a coragem de reformar o que está torcido.

Mas isso daria trabalho — e, ao contrário do futebol, não oferece aplausos garantidos.

O Distraído Não é o Presidente. É o País.

Se o próximo Presidente não amar futebol, não será distraído. Distraído é quem acredita que um país progride porque marca oito golos à Arménia. Distraído é quem confunde política com entretenimento. Distraído é o país que se resigna a esta lógica de superficialidade permanente.

O problema não é Marcelo gostar de futebol — é achar que isso deve ser critério para a chefia do Estado. A República merece melhor. A Nação precisa ser respeitada e dignificada perante o Mundo. E os portugueses merecem que a República seja exemplo de credibilidade e responsabilidade e não um teatrinho medíocre e popularucho.

Nota final : O futebol representa aquilo que de pior a sociedade portuguesa pode ter : corrupção, tráfico de influências, extorsão e crime. É isto que os portugueses querem e desejam?

Autor: Francisco Gonçalves

— Portugal merece melhor -

Fragmentos do Caos

"O país que celebra demasiado o trivial acaba sempre por ignorar o essencial."

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