Crónica do Absurdo Nacional
— O País dos Helicópteros Imóveis —

No país onde tudo é anunciado com pompa e fotografias oficiais, há sempre um detalhe esquecido: o essencial. O INEM tem helicópteros novos, cintilantes, com pintura impecável e logótipos reluzentes. Mas quando a emergência soa, quando o tempo é vida e o minuto decide o destino, as hélices não giram. O sistema está "em manutenção", "em reestruturação", "em avaliação". O doente espera. O país espera. O tempo, esse, não espera.

É a metáfora perfeita do que somos: uma nação que compra o instrumento mas esquece de lhe dar alma. Falta combustível na competência, falta ar na responsabilidade. O helicóptero é símbolo — do investimento sem planeamento, da promessa sem execução, do espectáculo sem substância.

Enquanto isso, o discurso continua. Os ministros asseguram "melhorias no futuro". Os diretores garantem "protocolos em revisão". E o cidadão, esse espectador cansado, assiste à peça repetida do desleixo institucional. O país continua a funcionar por milagre e improviso, dependente da boa vontade de quem ainda acredita que servir é um verbo nobre.

Mas o problema é sistémico: Portugal é governado há décadas por uma elite de incompetentes que ascenderam não pelo mérito, mas pela conveniência. E quando a incompetência se torna regra, o erro deixa de ser acidente — passa a ser cultura.

Vivemos num Estado que não previne: remenda. Que não planifica: reage. Que não governa: disfarça. E cada vez que um helicóptero não levanta voo, cai mais um pouco a nossa fé num país que já não sabe erguer-se.

"Em Portugal, até os anjos de socorro ficaram presos na burocracia do inferno."


📜 Série Contra o Teatro da Mediocridade
Por Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen
Publicada em Fragmentos do Caos


🌌 Fragmentos do Caos: Blogue Ebooks Carrossel
👁️ Esta página foi visitada ... vezes.