Portugal: O Pântano da Desigualdade e o Triunfo dos Maus Poderes

BOX DE FACTOS
- Portugal está entre os países mais desiguais da União Europeia segundo Eurostat e OCDE.
- A banca portuguesa acumulou dezenas de milhares de milhões em resgates pagos pelos contribuintes.
- Os lucros da banca, energia e seguros atingem máximos históricos enquanto os salários estagnam há décadas.
- A justiça portuguesa tem tempos médios de decisão entre os mais lentos da Europa Ocidental.
Portugal: O Pântano da Desigualdade e o Triunfo dos Maus Poderes
Há países desiguais. E depois há Portugal: um lugar onde a riqueza se concentra como uma tormenta imóvel, e onde o povo vive eternamente à beira da sobrevivência, enquanto os grandes poderes florescem na opacidade.
1. Um País Onde a Desigualdade Deixou de Ser Acidente e Passou a Ser Regra
Portugal tornou-se, silenciosamente, um dos países mais desiguais da União Europeia. Não pela fatalidade histórica, nem por qualquer carência estrutural inevitável — mas porque o modelo económico foi moldado para funcionar assim. Os ricos acumulam riqueza a um ritmo que nada tem de europeu e tudo tem de oligárquico. A classe média desapareceu no fumo da precariedade. E a maioria vive no limiar do razoável, com salários que não acompanham o custo da vida, com impostos que esmagam, e com serviços públicos que se afundam num lento afogamento. A desigualdade portuguesa não é estatística: é uma forma de governação.2. O Novo Feudalismo: Banca, Energia e Seguradoras
Banca, EDP, petrolíferas, telecomunicações, seguradoras — todos os grandes centros de lucro são protegidos por um escudo invisível, um amparo político, e uma regulação dócil que mais parece criada para acompanhar do que para supervisionar. É um feudalismo corporativo. - Os bancos têm lucros pornográficos enquanto o pequeno comerciante fecha portas. - A EDP cobra como divindade eléctrica, intocável pelo escrutínio. - As seguradoras multiplicam prémios como quem imprime papel sem valor mas com custo real. - As gasolineiras tratam o consumidor como servo do século XII. E tudo isto acontece porque o país inteiro se habituou ao dogma mais obsceno da nossa economia: **Privatizam-se os lucros. Nacionalizam-se os prejuízos.** É o "socialismo dos porcos", porque protege apenas quem grunhe mais alto no topo da cadeia.3. A Justiça Medieval que os Pobres Pagam e os Poderosos Usam
A justiça portuguesa é um monumento arqueológico. Lenta, dispendiosa, ineficaz — e, no entanto, perfeita para quem tem poder, dinheiro ou influência. Os pobres financiam o sistema através de impostos e custas. Mas são os poderosos que o utilizam como escudo, muralha e sala de espera até à prescrição. A justiça não é neutra. É desequilibrada por dentro, antiga por fora e, acima de tudo, funcional para quem a domina. Quando um sistema judicial demora 10 ou 15 anos a decidir, não está a servir a República: está a servir quem vive do tempo — e o tempo, nesse mundo oculto, compra-se com advogados, contactos e silêncio.4. A Opacidade Como Lei: Um País Empurrado para a Estagnação
Portugal vive num pântano estagnado. Nada se move porque ninguém quer que se mova. A opacidade é útil. A desigualdade é rentável. A lentidão é estratégica. A ignorância pública é conveniente. Há décadas que nos dizem que "não há alternativa". Mas a verdade é outra: não há vontade. Enquanto uns poucos acumulam fortunas imensas, a maioria luta para pagar contas. E esta assimetria não é natural — é planeada, mantida e reproduzida com eficiência quase científica.5. O Século XXI Exige Luz; Portugal Insiste nas Sombras
Nenhuma democracia madura se sustenta com desigualdade abissal, poderes económicos incontrolados e justiça inoperante. Portugal insiste na sombra, num século que exige transparência. E o mais triste é isto: A desigualdade tornou-se tão normal que a maioria já nem acredita que possa ser diferente. É este cansaço colectivo que sustenta o pântano. Mas não será sempre assim. Haverá sempre alguém com a coragem de dizer o que todos sentem mas poucos ousam pronunciar.Epílogo
Este país só mudará quando o povo parar de aceitar migalhas enquanto meia dúzia doma a mesa inteira. Até lá, a desigualdade não será uma estatística: será a nossa tragédia moral. Portugal tem futuro. Mas precisa de luz. Não da luz da EDP — essa é cara demais. Da luz do pensamento livre, da crítica, da coragem e da recusa do conformismo. Sem isso, continuaremos a viver num pântano onde os jacarés usam gravata.
Escrito por Francisco Gonçalves -
Em constelação crítica de Fragmentos do Caos.
Na luta contra a sombra organizada e opaca.
Na luta contra a sombra organizada e opaca.