Portugal : O excedente sem futuro

Portugal com Excedente — e o Povo com Défice
Segundo a Entidade Orçamental, o Estado português registou um excedente de 6.304,1 milhões de euros até setembro de 2025, um aumento de 610,8 milhões face ao período homólogo. A receita cresceu 6,6%, enquanto a despesa aumentou 6,3%.
Fonte: Correio da Manhã / Lusa
Portugal vive o seu pequeno milagre económico: 6.304 milhões de euros de excedente orçamental. O Governo exulta, as manchetes celebram, e Bruxelas aplaude discretamente. Mas entre o ruído das estatísticas, há um silêncio que dói — o do povo que continua a contar cêntimos no final do mês.
Sim, temos excedente. Mas também temos filas de espera intermináveis nos hospitais, professores em burnout, idosos abandonados e jovens a emigrar por falta de futuro. Há um país que poupa na dignidade para exibir um número bonito na vitrina de Bruxelas.
O Estado cortou onde era mais fácil: nos salários reais, nos serviços públicos e no investimento. Chamam-lhe disciplina orçamental. Mas o nome certo é outro — austeridade disfarçada de boa gestão.
O verdadeiro excedente devia medir-se não em euros, mas em qualidade de vida, felicidade coletiva e capacidade de criar futuro. E aí, caro leitor, o saldo é trágico.
Num país onde o PIB cresce timidamente, onde a produtividade continua estagnada e o talento foge, este excedente é o retrato de uma política que confunde equilíbrio de contas com sucesso civilizacional.
Excedente de euros, défice de humanidade — eis o resumo da governação portuguesa no século XXI.
— Francisco Gonçalves / Fragmentos do Caos