Portugal, Nação Refém: o Preço da Impunidade

Box de Factos
— Portugal figura entre os países europeus com menor confiança na Justiça (Eurostat, 2024).
— A impunidade política é apontada como a principal causa da descredibilização democrática.
— 67% dos jovens portugueses acreditam que o mérito "nada decide" na ascensão profissional.
Fontes: Eurobarómetro, TI, Observatório da Democracia

Portugal é hoje uma nação refém — refém da sua própria inércia, da cobardia dos que mandam e da resignação dos que obedecem. O país transformou-se num cenário onde a impunidade é o novo fado, e a justiça, uma actriz sem voz. Quem rouba milhões em nome do poder dorme em lençóis de linho; quem rouba pão, apodrece nas celas de um sistema hipócrita.

As instituições públicas, outrora templos de serviço, tornaram-se corredores de vaidade e tráfico de influências. Os grandes banqueiros, ministros e autarcas que sangraram o Estado continuam a ser tratados por "senhor doutor", convidados de honra em jantares e painéis de ética. Portugal habituou-se à vergonha e chama-lhe normalidade.

A cultura da impunidade

A impunidade é o cimento invisível que mantém o edifício da corrupção de pé. Ela nasce da lentidão judicial, da promiscuidade entre partidos e negócios, e da omertà social — esse pacto silencioso entre os que sabem e os que fingem não saber. É a confiança cega no "deixa andar" que mata a esperança e alimenta o cinismo.

"Em Portugal, o crime não paga — é pago."
— Fragmentos do Caos

Quando a justiça é lenta, a injustiça acelera

Um país que demora vinte anos a julgar um caso de corrupção não é democrático — é cúmplice. A justiça que se arrasta não é neutra: é uma forma subtil de perdão. E quando o perdão é institucionalizado, o crime transforma-se em política de Estado.

A verdadeira tragédia não é a corrupção em si, mas a aceitação dela como inevitável. É o "somos assim" que perpetua o atraso, o "não vale a pena" que eterniza o servilismo. Uma nação que se habitua à vergonha já não precisa de censura — censura-se a si própria.

A reconstrução moral

O renascimento português não virá das cúpulas partidárias, mas das consciências individuais. Cada cidadão que recusa o suborno, que denuncia o abuso, que exige transparência, é um soldado de uma revolução silenciosa. Só a integridade — teimosa, paciente e inegociável — poderá libertar o país das suas correntes invisíveis.

Portugal precisa de coragem — não a dos discursos inflamados, mas a dos actos simples e justos. O futuro começa quando deixarmos de chamar "esperteza" ao crime e "azar" à honestidade.


"Um país só é livre quando ninguém está acima da lei — nem mesmo os que a escrevem."

Publicado em Fragmentos do Caos — Série Contra o Teatro da Mediocridade.
© Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen

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