BOX DE FACTOS

  • A venda das seis barragens transmontanas pela EDP continua envolta em polémica fiscal.
  • O Movimento Cultural da Terra de Miranda (MCTM) exige transparência total.
  • O aviso ao Governo e ao Presidente: qualquer desvio será denunciado publicamente.
  • A contestação incide sobre alegadas manobras para reduzir ou contornar impostos devidos.
  • A região de Miranda recusa continuar a ser tratada como colónia energética.

Portugal e os Pobres que Pagam: As Barragens, a EDP e a Indignação de Miranda

Num país onde o povo paga sempre tudo e os poderosos quase nunca pagam nada, foi do planalto mirandês que chegou o aviso mais claro: "Não brinquem connosco."
Barragem transmontana ao pôr do sol

Uma advertência que ecoa como trovão frio

O Movimento Cultural da Terra de Miranda (MCTM) ergueu a voz com uma frontalidade rara num país habituado a cochichos e silêncios. A mensagem foi enviada ao Governo e ao Presidente da República: qualquer manobra que favoreça a EDP na cobrança dos impostos devidos pela venda das barragens será denunciada publicamente.

Nada de ambiguidades. Nada de sobrentendidos. A advertência não veio das avenidas lisboetas, mas das fragas frias de Miranda, onde as palavras ainda pesam. E quando dizem "advertência" — não "ameaça" — é porque essa gente distingue muito bem firmeza de violência, justiça de arrogância.

O velho vício português: o povo paga, os gigantes escapam

O caso das barragens é apenas o episódio mais recente de uma longa tradição nacional: quando se trata de cobrar impostos ao cidadão comum, não há falha, adiamento ou dúvida; mas quando os montantes envolvem milhões e os protagonistas são corporações gigantes, o Estado torna-se súbito poeta — vago, interpretativo e cheio de metáforas jurídicas.

É por isso que o povo de Miranda fala. É por isso que fala alto. É por isso que fala agora.

A identidade mirandesa não se compra

Enquanto Lisboa discute tecnicalidades, Trás-os-Montes recorda-nos que ali as coisas são simples: se há impostos a pagar, pagam-se. Se houve manobra, denuncia-se. Se o povo é enganado, reage.

Há uma verticalidade moral naquela região que não se dobra nem com promessas, nem com gabinetes, nem com consultores. É uma decência antiga — anterior ao Estado português — que incomoda quem prefere o país como um pátio privado de interesses.

O país precisa desta coragem

Talvez seja isso que mais falta faz a Portugal: não mais leis, não mais grupos de trabalho, não mais discursos — mas coragem cívica.

A coragem que vem de Miranda pode muito bem ser o princípio de uma consciência nacional nova, cansada de assistir à mesma dança de sempre onde apenas o povo não escolhe o par.

Epílogo: Portugal precisa de asseio, não de acrobacias fiscais

Se há impostos a cobrar, que se cobrem. Se há responsabilidades, que se assumam. Se há injustiças, que se corrijam.

Portugal precisa — mais do que nunca — de voltar a ser um país asseado, limpo e vertical. E talvez, apenas talvez, essa limpeza comece no ponto mais improvável: nas montanhas frias onde um povo pobre decidiu já não baixar a cabeça.

Escrito por Francisco Gonçalves com coautoria de Augustus Veritas. Uma publicação oficial do projecto Fragmentos do Caos.
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