O Abanão que Portugal Precisa

Por Francisco Gonçalves  |  Série: Contra o Teatro da Mediocridade


Há muito que o país mergulhou num pântano espesso onde o cheiro da corrupção se tornou parte do ar que respiramos. Os que deveriam servir o povo são agora os seus parasitas. O poder deixou de ser missão — é negócio. E a política, outrora instrumento de esperança, converteu-se em palco de disfarces onde cada ator interpreta o papel de salvador, enquanto manipula os fios invisíveis do conluio.

Não, isto já não é apenas desgoverno — é decomposição moral. E chega um momento em que a paciência de um povo se transforma em murmúrio, e o murmúrio em clamor. Estamos à beira desse ponto de ignição em que a mentira institucionalizada já não se sustenta sob o peso da sua própria hipocrisia.

Precisamos de um abanão — mas não de um sopro tímido. Precisamos de um terramoto ético que arranque as máscaras e quebre as estruturas que alimentam o compadrio. Um abalo feito de lucidez, de coragem, de inteligência cívica. Não de pedras nem gritos, mas de luz. Uma revolta de consciência que revele o que há muito foi enterrado sob a lama da conveniência.

O verdadeiro patriota não é o que grita o nome da pátria — é o que a liberta da mentira que a governa.

O país está cansado de promessas e de sorrisos estudados. De políticos que tratam o Estado como propriedade privada e da população como servos anestesiados. A democracia que temos foi sequestrada por elites que trocam favores em gabinetes fechados e chamam a isso "governação".

O futuro só será possível se emergir uma nova geração de cidadãos incorruptíveis — homens e mulheres de integridade serena, que não se deixem comprar nem dobrar. Gente que saiba que o verdadeiro poder não está nos cargos, mas na consciência desperta.

Portugal precisa, sim, de um grande abanão — daqueles que estremecem o edifício do poder e fazem cair o estuque da mentira, deixando entrar o sol. Porque o país que se ergue da verdade é o único que merece o nome de Pátria.


Série "Contra o Teatro da Mediocridade" — Publicado em Fragmentos do Caos

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