BOX DE FACTOS

  • Lisnave e Setenave foram, nos anos 70-80, colossos mundiais da reparação naval.
  • A Siderurgia Nacional, a Sorefame e a metalomecânica pesada sustentavam a economia industrial portuguesa.
  • Em poucas décadas, quase todo o sector industrial estratégico foi desmantelado.
  • Portugal tornou-se dependente do turismo, fundos europeus e serviços de baixo valor acrescentado.
  • Agora, cinco décadas depois, o Estado anuncia a intenção de "recuperar" a construção naval.

Portugal: 50 anos de Democracia da Canalhice – O País Que Se Desfez de Si Mesmo

Um país que já foi potência industrial arrasou, com devoção política e incompetência santificada, tudo o que lhe dava força. Meio século depois, os mesmos que destruíram tudo anunciam, com ar inocente, que é preciso recuperar o que mataram.

Portugal foi, um dia, uma nação que dominava a engenharia naval, que moldava aço, que fabricava locomotivas, que construía navios que cruzavam metade do mundo. Lisnave e Setenave não eram símbolos — eram fortalezas de conhecimento técnico, metalomecânico, humano e industrial. A Profabril que fornecia serviços de consultoria multi-disciplinares de excelência mundial. A Siderurgia Nacional era a espinha dorsal de qualquer país industrializado. A Sorefame era orgulho europeu e já exportava para o mundo. A metalomecânica pesada sustentava empregos qualificados e exportações.

E, no entanto, meia dúzia de iluminados da política — aqueles "gestores da pátria emprestada" e economistas "autistas" — acreditaram ser boa ideia desmantelar tudo em nome de ideias peregrinas, modernizações fantasiosas, dogmas importados, e promessas europeias que nunca chegaram.

A destruição como política pública

Durante 50 anos, a democracia portuguesa fez aquilo que nenhum inimigo conseguiria: desligou máquinas, encerrou fábricas, vendeu equipamentos ao preço da sucata e transformou operários qualificados em desempregados ou emigrantes.

O discurso oficial dizia: "Estamos a modernizar". A prática real era: "Estamos a apagar a nossa própria capacidade produtiva e a empobrecer Portugal.

E fizeram-no com uma devoção quase religiosa. Era preciso agradar à Europa. Era preciso desindustrializar. Era preciso ser "um país de serviços". O resultado ? Tornámo-nos um país de servidão, onde o turismo manda e o resto obedece.

Meio século depois: o despertar hipócrita

Agora, os mesmos que fecharam estaleiros anunciam, com solemnidade e cara de espanto:

"Portugal deve apostar novamente na construção naval e na indústria pesada."

É irónico? Não.
É trágico.

É a prova definitiva de que fomos governados por incompetentes que confundiram reformas com rendição, progresso com liquidação e estratégia com servilismo.

A verdade nua é esta: o país ficou entregue a medíocres e corruptos, gente astuta na esperteza saloia, ambiciosa no bolso fácil e totalmente incapaz de compreender a grandeza de uma nação. Governaram-se a si mesmos enquanto destruíam o país — e talvez, simplesmente, não soubessem fazer melhor.

E o pior de tudo? Nunca foram responsabilizados.
Continuam por aí, confortavelmente instalados, a vender as suas "óptimas ideias", pagas com as mesmas mordomias de sempre, sustentadas pelos contribuintes de sempre.

Mas a História não lhes oferecerá o alívio do esquecimento. A História escreve a direito — e escreve com memória.

A nação portuguesa é imortal, mais antiga do que toda a sua mediocridade, mais firme do que cinquenta anos de desvario político. E este meio século ficará marcado como um dos períodos mais sombrios da nossa história colectiva, um tempo em que o país foi reduzido à pequenez pela mão daqueles que nunca tiveram grandeza para o liderar.

Portugal tornou-se pequeno porque a sua liderança também o é

Nenhum país cresce apenas com hotéis, restaurantes e apartamentos de Airbnb. Nenhum país se eleva apenas com festivais, influencers, pastelarias e discursos sobre "emprego jovem no turismo".

Um país cresce com:

  • engenharia;
  • indústria pesada;
  • investigação aplicada;
  • construção naval;
  • siderurgia;
  • Novas tecnologia com valor real.

Tudo o que tivemos — e tudo o que decidimos destruir.

A verdade crua

O país que poderia ser potência industrial tornou-se uma economia de sobrevivência, com salários de miséria, dependente de fundos externos e da boa vontade dos turistas.

A democracia não falhou. Falharam aqueles que a conduziram para o precipício da mediocridade.

E agora, como penitentes tardios, anunciam o renascimento industrial sem competência, sem visão e sem vergonha. O país precisa de futuro — mas primeiro precisa de memória.

Epílogo

Portugal não morreu — apenas adormeceu num sono pesado de quarenta anos. Mas acordará, quando a verdade for dita com a dureza necessária. Quando a lucidez vencer o folclore político. E quando a coragem voltar a ser mais valiosa do que o discurso fácil.

Escrito por Francisco Gonçalves em co-autoria com Aletheia Veritas
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