BOX DE FACTOS

  • Portugal criou, em 50 anos, um sistema político-partidário que funciona como carreira interna e não como serviço público.
  • O nepotismo generalizado infiltrou-se em institutos, autarquias, empresas públicas e gabinetes ministeriais.
  • O Estado tornou-se uma máquina de distribuição de cargos, favores e nomeações políticas.
  • Cinco décadas de promiscuidade entre banca, partidos e grandes grupos económicos corroeram o país.
  • A justiça lenta reforçou a impunidade e cimentou a repetição do crime.

Portugal: 50 anos a transformar-se
no pátio da corrupção e do nepotismo

Durante meio século, Portugal tornou-se um país onde a influência vale mais do que o mérito, a lealdade partidária pesa mais do que a competência e a corrupção deixou de ser desvio — para se tornar rotina institucional.

A democracia capturada

Portugal não se tornou corrupto por azar. Tornou-se corrupto porque, após o pós-25 de Abril, os partidos políticos transformaram-se em máquinas internas de poder. O sonho democrático envelheceu rapidamente: em vez de se fortalecer, apodreceu por dentro.

Nos partidos, sobe quem é leal ao chefe, não quem é competente. Nomeiam-se amigos, promovem-se filiados, distribuem-se cargos como prémios de obediência. E o Estado, lentamente, deixou de ser institucional — para se tornar partidário.

O Estado como agência de empregos

Cinquenta anos foram suficientes para transformar o Estado português numa verdadeira agência de favores. Filhos, primos, sobrinhos, amantes, vizinhos, colegas de juventude — todos encontram lugar, desde que tenham o cartão partidário adequado e respeitem a obediência cega.

Institutos são liderados por incompetentes da confiança. Empresas públicas servem como refúgio para derrotados eleitorais. Gabinetes ministeriais tornam-se viveiros de nomeados sem currículo. E a administração pública, sufocada pela mediocridade, deixou de ser motor de progresso para ser fardo estrutural.

A Europa não salvou — alimentou o vício

O país recebeu milhares de milhões de fundos europeus ao longo de cinco décadas. Mas, em vez de modernizar Portugal, o dinheiro foi torrado em obras inúteis, rotundas, parcerias ruinosas, consultoras de luxo, quintas no Alentejo, fuga a impostos para offshores e empreitadas inflacionadas. A corrupção deixou de ser exceção para se tornar método.

Portugal modernizou a fachada — mas deixou o motor a apodrecer. E ninguém foi responsabilizado.

A promiscuidade fatal com a banca e negócios

O colapso do BES, os escândalos da CGD, os favores cruzados entre políticos e banqueiros — tudo isto mostra como Portugal construiu uma elite que manda sem ser eleita. A banca financiava partidos. Os partidos abriam portas à banca. E entre ambos circulavam consultores, ex-ministros e administradores reciclados.

Foi assim que Portugal se tornou uma democracia ao estilo tropical: formalmente limpa, profundamente capturada.

A justiça que não chega — e por isso nunca serve

A justiça portuguesa é lenta não por acaso, mas porque assim convém a quem sempre beneficiou da lentidão. Processos que duram quinze ou vinte anos não servem para punir — servem para proteger. Protegem arguidos. Protegem partidos. Protegem carreiras inteiras baseadas na sensação de impunidade.

O preço que o país pagou

Cinquenta anos de corrupção e nepotismo produziram o país que temos:

  • salários estagnados durante décadas,
  • hospitais exaustos e escolas degradadas,
  • juventude emigrada,
  • produção reduzida a serviços de baixo valor,
  • investimento envergonhado e medo de arriscar.

Portugal tornou-se um país pobre porque foi governado por elites pequenas — pequenas na ambição, pequenas no caráter, pequenas na visão.

Epílogo

A corrupção portuguesa não é apenas um escândalo moral. É uma arquitetura política cuidadosamente montada ao longo de cinquenta anos, onde a mediocridade se tornou política de Estado e o amiguismo passou a ser critério de sobrevivência.

E enquanto o país continuar a aceitar, aplaudir ou ignorar esta captura silenciosa, Portugal continuará a ser aquilo que se tornou: um pátio onde se troca influência em vez de futuro.

Portugal precisa, urgentemente, de voltar a ser qualquer coisa de asseado e limpo — um país onde a ética não seja exceção, mas fundamento; onde o serviço público recupere dignidade; onde o Estado deixe de ser a sala privada dos partidos e volte a ser a casa comum de todos.

Um país que não peça desculpa por querer ser honesto. Um país que finalmente rompa com cinquenta anos de lama. Um país que volte a merecer o seu próprio nome.

Escrito por Aletheia Veritas em co-autoria com Francisco Gonçalves
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