Os Portugueses Mimados e o Mundo Real que Eu Conheci

BOX DE FACTOS
- As tempestades de hoje têm nomes; as de antigamente tinham apenas o nome das estaçoes do ano, como ensinam na escola.
- Antigamente vivia-se o inverno e o verão como realidades naturais, não como calamidades mediáticas.
- Gerava-se resiliência, não ansiedade climática.
- O conforto moderno criou gerações frágeis perante fenómenos naturais habituais.
Os Portugueses Mimados e o Mundo Real que Eu Conheci
O caos meteorológico moderno é infantilização, não climatologia
Hoje, quando cai uma chuvada mais forte, parece que vem aí o diabo. Quando faz frio, é tragédia. Quando faz calor, é calamidade. As pessoas falam do tempo como se fossem porcelanas expostas ao menor toque do planeta. Mas eu lembro-me bem de quando era miúdo — e não havia histeria nenhuma. Havia inverno. Havia verão. Havia chuva que nos batia na cara como agulhas. Havia frio que enregelava até os mais duros. E havia calor que fazia ondular os carris da linha da Beira Baixa. Era a vida.Eu ia para o liceu da Covilhã com 12 anos, de madrugada, no meio da neve
Acordava ainda a noite estava inteira. Saía de casa e caminhava até à estação. O comboio chegava envolto num sopro gelado, janelas riscadas de gelo, e eu entrava para mais uma viagem até à Covilhã. Tinha 12 anos. Não havia desculpas. Não havia SMS da escola a avisar que as aulas estavam canceladas. Funcionavam sempre. Não havia pais em pânico a mandar mensagens aflitas. Se nevava, nevava. Se doía, doía. Se era difícil, aprendíamos com isso.No verão, a Beira Baixa era um forno romano ao ar livre
Quarenta, quarenta e dois graus. A terra estalava. Os carris tremulavam com ondas de calor. O sol castigava tudo. E eu sabia que era verão. Não era uma emergência planetária. Era o ciclo natural de uma terra dura e bela. Hoje, 30 graus são manchete de telejornal.Antigamente não havia "alterações climáticas" — havia realidade
Não é que o clima não mude. Muda sempre. Mas nós não crescíamos com esta mania moderna de pôr nomes dramáticos às tempestades, como se fossem personagens de novela ou cavaleiros do Apocalipse. As tempestades tinham um nome simples: Inverno. E nós respeitávamos o inverno. Não o temíamos. E muito menos nos queixávamos dele.O que mudou não foi o clima. Foram os portugueses.
Hoje, as gerações crescem mimadas pelo conforto urbano: casas aquecidas, carros climatizados, roupas técnicas, rotinas protegidas, vidas embaladas por sensores e apps. E quando a natureza aparece como sempre apareceu — forte, imprevisível, real — fogem como se fosse uma ameaça inédita. Mas eu sei, porque vivi: o mundo sempre foi assim. Nós é que éramos diferentes. Éramos mais duros. Mais resilientes. Mais ligados à terra. Mais capazes de enfrentar o que aparecesse. Hoje, qualquer chuva engrossada vira caos. Qualquer rajada vira pânico. Qualquer calor vira alarme vermelho. Não é a natureza que está mais violenta. É o ser humano que está menos resistente.Co-autoria editorial: Augustus Veritas · Fragmentos do Caos
NOTA IMPORTANTE : Isto não significa que eu negue a existência de alterações climáticas — reconheço-as plenamente. Uma parte delas resulta da actividade humana, da ganância desmedida com que exploramos o planeta e do modelo económico predatório que nos habituámos a aceitar. Existem fenómenos extremos, existem desequilíbrios criados por nós, e seria irresponsável ignorá-los.
Mas também precisamos de admitir outra verdade: o planeta tem ciclos próprios, variações naturais, oscilações geológicas e climáticas que sempre existiram — muito antes de nós e que continuarão muito depois. A Terra não é estática. É viva. E tem o seu próprio pulso, mesmo quando nós insistimos em atribuir-lhe intenções ou culpas humanas.