O Tempo Dourado dos Medíocres

Chamaram-lhe o "milagre português". Cavaco Silva sorria para as câmaras, o PIB crescia, e os ministros desfilavam de gravata nova, convencidos de que tinham reinventado o país. Mas por baixo do verniz das inaugurações e dos discursos tecnocráticos, crescia um tumor silencioso — o da mediocridade com cartão partidário.

Era o tempo dos homens sérios de fato cinzento, que falavam em "modernização" enquanto abriam a torneira do erário público para os amigos, as consultoras e os bancos do regime. A elite cavaquista formava um círculo fechado: ministros, gestores públicos e banqueiros que se tratavam por "meu caro amigo" e se auto-promoviam com medalhas, condecorações e nomeações cruzadas.

O país, ainda tonto com a entrada na CEE e o jargão do "crescimento sustentável", não percebia que o ouro vinha de Bruxelas e o brilho vinha do marketing político. Por trás da fachada, cresciam impérios de corrupção disfarçados de sucesso. Ferreira do Amaral construía pontes e tecia concessões. Dias Loureiro descobria o prazer do dinheiro fácil na SLN e no BPN. Oliveira e Costa criava o banco que viria a ser o símbolo máximo do roubo institucionalizado. E o chefe — o "Professor" — fingia não ver, ou via e achava normal.

Chamava-se "rigor", mas era conivência organizada. Chamava-se "eficiência", mas era clientelismo polido. Chamava-se "crescimento", mas era endividamento disfarçado de milagre. Portugal crescia como uma casa de cartão pintada de ouro: bela à distância, oca por dentro.

Os anos 90 chegaram com o mesmo perfume: a bolsa inflava, os bancos distribuíam crédito fácil, os ministros reformavam-se ricos, e o povo acreditava. Era o tempo da grande ilusão nacional — quando roubar o país ainda era segredo, e o sucesso político se media em jantares e compadrios.

"Portugal cresceu — é verdade. Cresceu em betão, cresceu em dívida e cresceu em vergonha."

No fim, ficaram os destroços: o BPN, o BPP, as autoestradas sem carros, os estádios vazios e uma geração ensinada a acreditar que quem chega ao poder merece a recompensa. Cavaco reformou-se com honras de Estado e silêncio de consciência. O país reformou-se com menos futuro e mais impostos.

Chamaram-lhe o tempo dourado. Foi, na verdade, o tempo em que a mediocridade vestiu fato e gravata, subiu ao púlpito e disse: "Senhores, o país está no bom caminho". Estava — mas para o abismo.

"A história não os perdoará. Porque o tempo pode apagar rostos, mas nunca apaga a vergonha."

Fontes e Referências

Todas as fontes consultadas foram verificadas a partir de publicações nacionais e arquivos históricos entre 2008 e 2025. As ligações externas são incluídas para fins de transparência e contexto, reforçando a dimensão factual deste ensaio.

— Autoria de Augustus Veritas Lumen - Fragmentos do Caos ✦ Série: Contra o Teatro da Mediocridade


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