O Julgamento que Espera Putin: a Justiça e a Memória dos Povos

BOX DE FACTOS
- Em 17 de Março de 2023, o Tribunal Penal Internacional (CPI) emitiu mandados de captura contra Vladimir Putin e Maria Lvova-Belova por alegados crimes de guerra, nomeadamente a deportação forçada de crianças ucranianas. (icc-cpi.int)
- A Rússia não é parte no Estatuto de Roma e recusou reconhecer a jurisdição da CPI. (The Guardian)
- Apesar da acusação estar formalizada, a detenção é improvável a curto prazo devido à ausência de cooperação internacional e à protecção política do Kremlin.
O Julgamento que Espera Putin: a Justiça e a Memória dos Povos
1. A marca de um mandado histórico
Em Março de 2023, o Tribunal Penal Internacional emitiu mandado de captura contra o presidente russo, Vladimir Putin, e contra Maria Lvova-Belova, com base em razões ponderáveis de que seriam responsáveis pela deportação ilegal de crianças ucranianas para território russo. Este acto marca um momento sem precedentes: pela primeira vez, um chefe de Estado de uma potência nuclear é formalmente acusado por crimes de guerra enquanto no poder.
2. Por que a responsabilidade pode tardar
A Rússia rejeita a jurisdição da CPI e considera o mandado "nulo e sem validade". O direito internacional, por sua vez, exige a presença física do arguido para julgamento — algo impossível enquanto Putin permanecer protegido dentro do seu território ou entre aliados fiéis. A recolha de provas em zonas de guerra é outro obstáculo enorme, onde a verdade precisa atravessar os escombros da política e da propaganda.
3. A justiça além do tribunal
Mesmo que a justiça formal demore, há uma outra forma de justiça que já se cumpre: a da memória e da reputação. O nome de Putin ficará eternamente ligado aos crimes cometidos em Bucha, Mariupol ou Izium. A sua mobilidade internacional encontra-se limitada, e o peso simbólico do mandado de captura é em si uma condenação moral. A História, que não conhece tribunais físicos, já o colocou entre os responsáveis pelos horrores do século XXI.
4. O que falta para o julgamento se concretizar
Para que a acusação se transforme em veredicto, seria necessária a entrega do arguido, a cooperação internacional efectiva e uma mudança política interna na Rússia. A justiça internacional é paciente — mas não esquece. Cada testemunho recolhido, cada prova preservada, é um tijolo que um dia poderá sustentar o tribunal final da humanidade.
5. Perspectiva futura — entre esperança e realismo
Mesmo que a Rússia conquiste vitórias militares, não escapará à derrota moral. Nenhum império sobrevive às suas próprias mentiras. Roma, Napoleão, Hitler — todos tombaram sob o peso da hybris. E também Putin, um dia, encontrará o julgamento que a História reserva aos que confundem poder com impunidade. O tempo é o advogado mais implacável do universo.
Coautoria e edição: Augustus Veritas
Publicação: Fragmentos do Caos — 16 de Novembro de 2025