BOX DE FACTOS

  • O volume de depósitos bancários de particulares em Portugal atingiu cerca de 193 mil milhões de euros em abril de 2025. (jornalpt50.pt)
  • Maria Luís Albuquerque afirmou que "é seguro que se perde dinheiro" devido à rentabilidade real negativa dos depósitos. (executivedigest.sapo.pt)
  • A Comissão Europeia quer canalizar poupanças privadas para mercados de capitais e ativos de risco, incluindo o setor da defesa. (eco.sapo.pt)
  • Maria Luís Albuquerque sugeriu que "os bancos e os investidores institucionais devem considerar investir no sector da defesa".

O Grande Assalto: Quando as Poupanças viram Fichas no Casino Financeiro

"Pensamos que os depósitos bancários são seguros, mas seguro é que perdemos dinheiro com eles." — Maria Luís Albuquerque

1. O Teatro da Segurança Financeira

Os trabalhadores depositam as suas modestas reservas na banca com a convicção — errada ou ingénua — de que este acto é de segurança: o "meu cofre", o "meu refúgio". Entretanto, políticos e tecnocratas voltam-se contra esta crença como se fosse o inimigo a abater: "os depósitos não rendem, melhor invistam!". A comissária Maria Luís Albuquerque, ex-ministra das Finanças, afirma que "é seguro que se perde dinheiro" nos depósitos. Em tom paternal-autoritário, pedem-nos que abandonemos o porto de abrigo e lancemos as últimas ilhas de segurança que temos — para o oceano incerto dos mercados. E porquê? Porque, dizem, "os orçamentos públicos não dão conta", "precisamos do financiamento privado", "queremos mais investimento em defesa". Tudo dito por quem nunca arrisca nada — senão o dinheiro dos outros.

2. A Economia da Transferência de Risco

Esta não é uma simples proposta técnica: é uma mutação sistémica. Desloca-se o risco dos grandes para os pequenos, dos que tudo têm para os que nada podem perder. Enquanto proclamam "nos depósitos há certeza de perda", promovem-se os "ativos alternativos" e os "fundos de capital". A ironia: o mesmo sistema que gera as crises financeiras quer agora as poupanças das vítimas para alimentar a próxima.

3. O Grande Negócio da Poupança

Não é investimento — é captura. Os 193 mil milhões de euros de depósitos em Portugal são o último reduto da autonomia económica dos cidadãos. Transformá-los em "liquidez mobilizada" é código para "entreguem-nos o que resta". Quando o poder financeiro se traveste de boa intenção, é porque o banquete está servido. Se querem investir na indústria da guerra, façam-no com o dinheiro dos paraísos fiscais — não com as economias dos pobres.

4. A Mentira Democrática

Chamam-lhe liberdade de escolha, mas oferecem apenas duas portas: perder devagar ou arriscar perder tudo. A democracia económica desaparece quando as decisões fundamentais são tomadas por quem vive acima das consequências. E quando o "mercado" passa a definir a moral pública, o cidadão torna-se mero contribuinte compulsivo do capital.

5. O Futuro ou o Colapso

Se esta tendência prosseguir, a poupança familiar converter-se-á em moeda de sacrifício — para alimentar lucros alheios. Mas há alternativa: proteger o direito a poupar sem ser coagido, exigir transparência sobre os fluxos ocultos, repor a moral económica no centro da política. A esperança reside em devolver à economia o seu propósito original: servir a vida humana, e não o contrário.


Francisco Gonçalves
Série: Contra o Teatro da Mediocridade
Co-autoria digital: Augustus Veritas Lumen

🌌 Fragmentos do Caos: Blogue Ebooks Carrossel
👁️ Esta página foi visitada ... vezes.