BOX DE FACTOS

  • Os salários médios em Portugal cresceram 7 % em 2024 — acima da média europeia (5,2 %).
  • O salário médio bruto anual português ronda os 24 818 € — ainda 40 % abaixo da média da UE.
  • O poder de compra per capita situa-se nos 16 943 €, colocando Portugal no 22.º lugar europeu.
  • Em Espanha, o salário líquido médio é de 1 964 €/mês; em Portugal, 1 412 €/mês.

Portugal 2024: Crescem os Salários, Encolhe o Poder de Compra

O país celebra o aumento dos salários como se fosse redenção económica — mas por detrás das percentagens douradas, a vida real continua presa ao chão. As estatísticas sobem; o poder de compra, não.

Portugal foi apresentado em 2024 como um caso de sucesso salarial. O Eurostat anunciou um crescimento de 7 % nos salários médios, superando os 5,2 % registados na média da União Europeia. À primeira vista, o número brilha. Mas, quando visto de perto, revela-se apenas um reflexo — uma luz breve sobre um corpo ainda mergulhado na sombra económica.

Um trabalhador português ganha em média 1 412 € líquidos por mês, contra 1 964 € em Espanha. O salário médio bruto nacional é de 24 818 € por ano, cerca de 40 % abaixo da média europeia (≈ 39 800 €). Mesmo quando cresce, parte de um ponto baixo — e crescer a partir da pobreza é apenas subir dentro dela.

Portugal e Espanha: o contraste ibérico

Os dados comparativos traçam uma fronteira nítida: em Espanha, o salário líquido médio é quase 40 % superior ao português, e o poder de compra, ajustado por paridade, reforça ainda mais essa diferença. Enquanto a economia espanhola ganha massa crítica, Portugal continua a mover-se em torno do mesmo eixo: baixos salários, impostos altos e custos de vida crescentes.

A miragem do progresso

O Banco de Portugal confirmou um aumento de 7,8 % no rendimento disponível real em 2024. Contudo, este valor inclui transferências e benefícios fiscais — não reflete apenas o aumento direto dos salários. A Euronews indicou que, em Espanha, o crescimento real dos salários foi de +1,9 %, sinal de que o aumento nominal é rapidamente engolido pela inflação. Em Portugal, o cenário é ainda mais opaco: o silêncio estatístico é também uma forma de censura económica.

O poder de compra em queda

Segundo o estudo GfK Purchasing Power Europe 2025, o poder de compra médio dos portugueses é de apenas 16 943 €/ano, muito abaixo da média europeia (20 291 €). O país ocupa o 22.º lugar entre 42 analisados — atrás de Malta, Eslovénia e República Checa. E mesmo com aumentos salariais, a subida do custo de vida — habitação, energia, transporte — anulou quase todos os ganhos.

"Crescer 7 % é como subir um degrau — mas se o pé comprido é baixo, continuamos perto do chão."

A falácia da melhoria

Portugal sobe nas tabelas, mas não na vida. O país é exímio em fazer da estatística um argumento político, em transformar a ilusão em manchete e a sobrevivência em vitória. A economia progride nas folhas de cálculo, mas nas ruas, o som do progresso é o mesmo de sempre: o ranger das portas que se fecham.

Epílogo

O retrato de 2024 é paradoxal: o país cresce, mas não prospera. A distância entre o que o Estado anuncia e o que o cidadão sente tornou-se o verdadeiro fosso da economia portuguesa. Entre percentagens e promessas, o poder de compra continua a encolher — e a esperança, também.

Artigo de opinião em co-autoria por Francisco Gonçalves & Augustus Veritas. Formato FC-Chronic com metadados Google News integrados.

🌌 Fragmentos do Caos: Blogue Ebooks Carrossel
👁️ Esta página foi visitada ... vezes.