O Compasso e a Sombra: quando o Poder Oculto pesa mais que a Justiça

A República dos Intocáveis: Anatomia do Poder Oculto
— A Maçonaria portuguesa divide-se em várias obediências: o Grande Oriente Lusitano (G.O.L.), a Grande Loja Legal de Portugal (GLLP) e outras ramificações.
— É legal desde 1974, mas as suas redes de influência continuam envoltas em secretismo.
— Estudos académicos e relatórios de imprensa documentam a sua presença nas elites políticas, empresariais e judiciais.
Fontes: Wikipedia, Pietre-Stones, Policy Studies Organization, RSC Journal, Eurobarómetro
Portugal é uma república de aparências — por trás da cortina institucional, há um conjunto de forças que moldam o poder real, muitas vezes à margem da vontade popular. Entre essas forças discretas destaca-se a Maçonaria, cuja história se confunde com a do próprio Estado português moderno.
1. As raízes de uma fraternidade discreta
A Maçonaria portuguesa nasceu no século XVIII e desde cedo se cruzou com o poder político. Em 1802, surge o Grande Oriente Lusitano, de tendência liberal e anticlerical. No século XX, durante o Estado Novo, foi perseguida e proibida pela Lei nº 1901 de 1935. Após o 25 de Abril, voltou à legalidade, reorganizando-se e expandindo-se entre magistrados, militares, empresários e quadros técnicos do Estado. (Wikipedia)
2. O poder nas sombras
O sociólogo Arnaldo Geng, em Pietre-Stones, descreve como a Maçonaria portuguesa consolidou influência nos anos 1990: "A nova Obediência estabeleceu forte presença entre profissões liberais, intelectuais, funcionários públicos e académicos." (freemasons-freemasonry.com)
O fenómeno é paradoxal: as obediências são legais e defendem princípios universais de fraternidade e ética — contudo, a opacidade interna e o segredo das filiações permitem que o ideal se transforme, na prática, em rede de influência.
"A Maçonaria em Portugal é simultaneamente uma escola de virtude e um espelho das tentações do poder."
— Fragmentos do Caos
3. Da fraternidade à captura institucional
Nas últimas décadas, surgiram acusações — ainda que raramente comprovadas em tribunal — de infiltração maçónica em áreas sensíveis do Estado: nomeações judiciais, concursos públicos, privatizações e até decisões orçamentais. O tema é delicado, mas real: o próprio Eurobarómetro assinala que a maioria dos portugueses acredita na existência de "redes de poder ocultas" que influenciam decisões políticas e económicas.
A fronteira entre fraternidade filosófica e lobby político é ténue. O risco maior não está no ritual, mas na promiscuidade — quando juramentos privados se sobrepõem à lealdade pública.
4. A democracia a meio-luz
Uma república não pode viver em luz parcial. Quando a transparência é substituída por sigilo e a meritocracia por pertença, instala-se a erosão da confiança pública. O Estado deixa de ser comunidade e passa a clube — o país transforma-se em território de iniciados. Isso é, em essência, a negação da democracia.
O académico Fernando Marques da Costa escreve em Transoceanic Masonic Networks in the Portuguese Empire que o fenómeno da Maçonaria "revela uma elite transnacional que, em nome da fraternidade, consolidou influência política e económica". (RSC Journal, 2024)
5. Entre o mito e o facto
É importante separar o que é documentado daquilo que pertence ao imaginário conspirativo. Muitas lendas sobre a "conspiração maçónica" nasceram em ambientes autoritários e antissemíticos. Mas reconhecer os exageros não deve servir para ocultar a realidade de redes de influência reais, que operam sob o manto do segredo e escapam ao escrutínio cívico.
6. O que Portugal deve exigir
- Transparência total em cargos públicos, concursos e adjudicações;
- Declaração obrigatória de filiações associativas por titulares de cargos de soberania;
- Supervisão parlamentar sobre lobbies e grupos de influência;
- Educação cívica sobre ética pública e responsabilidade institucional.
Uma democracia madura não teme a verdade — teme o silêncio. É preciso abrir as janelas da República e deixar entrar o ar fresco da transparência. Só assim se libertará Portugal da sombra dos intocáveis.
Fontes credíveis
- Arnaldo Geng — "History of Freemasonry in Portugal", Pietre-Stones.
- Fernando Marques da Costa — "Transoceanic Masonic Networks in the Portuguese Empire", RSC Journal (2024).
- Policy Studies Organization — "Freemasonry and Government".
- Wikipedia — "Freemasonry in Portugal".
- Wikipedia — "Judeo-Masonic Conspiracy Theory".
© Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen