Marques Mendes: o candidato do passado que promete o futuro

BOX DE FACTOS
- Luís Marques Mendes nasceu em 5 de Setembro de 1957, em Guimarães.
- Foi ministro adjunto (1992-95), ministro dos Assuntos Parlamentares (2002-04) e líder do PSD (2005-07).
- Formalizou a candidatura à Presidência da República 2026 com apoio do PSD. (RTP)
- Afirma representar "experiência, independência e capacidade de consensos".
Marques Mendes: o candidato do passado que promete o futuro
1. Um homem do aparelho
Luís Marques Mendes surge à corrida presidencial como o rosto da continuidade. Advogado de profissão e político por vocação, é um produto puro do sistema partidário português — moldado nos gabinetes e nos corredores do poder. A sua carreira, longa e cheia de cargos, confere-lhe experiência, mas também o peso de representar a elite política que nunca largou o comando do Estado.
Os seus apoiantes falam de estabilidade, prudência e conhecimento institucional. Os seus críticos lembram que é precisamente essa estabilidade que tem asfixiado a mudança e cristalizado a mediocridade. A sua candidatura, em essência, é a de quem promete futuro... mas carrega o passado inteiro nos ombros.
2. O fardo da classe política
Portugal vive sob a sombra de cinquenta anos de gestão política marcada por compadrios, carreirismo e favores cruzados. Marques Mendes não escapou a esse enquadramento: pertence à geração que viu nascer a democracia e que a transformou, lentamente, num palco de sobrevivência de partidos e conveniências.
Não há provas judiciais de enriquecimento ilícito ou corrupção pessoal, mas há uma percepção social difícil de dissipar — a de que a classe política viveu décadas acima do país, beneficiando de privilégios e mordomias enquanto os cidadãos se afundavam em impostos e promessas incumpridas.
3. A máscara da independência
Marques Mendes fala de independência. Mas como pode um homem de partido, que viveu a política desde dentro, encarnar a ideia de ruptura? A independência, neste contexto, soa a palavra de marketing. É o mesmo rosto, apenas com uma nova moldura. A máquina partidária apoia-o, a comunicação institucional protege-o, e o eleitorado sabe: Belém corre o risco de se tornar mais uma extensão do aparelho.
4. A ilusão da experiência
O argumento da "experiência" — repetido até à exaustão — é o último refúgio de quem não tem mais nada de novo a propor. A experiência sem transformação é apenas repetição. Portugal não precisa de quem saiba navegar o sistema: precisa de quem tenha coragem para o desmontar. E essa coragem raramente nasce entre os que dele sempre beneficiaram.
5. A encruzilhada nacional
Num país exausto, com a juventude a emigrar e os idosos a escolher entre comer ou aquecer-se, a Presidência da República deveria ser a voz da regeneração. Um farol moral, não um eco institucional. Mas a candidatura de Marques Mendes parece ser a tentativa desesperada de manter o velho regime respirando, com a máscara da seriedade e o sorriso da previsibilidade.
6. O peso da História
Portugal tem um talento trágico para escolher os seus líderes entre os guardiões do passado. Marques Mendes é a imagem perfeita de um país que envelheceu sem mudar. Pode vencer — mas será uma vitória de sombras. A justiça social, a ética pública e o renascimento moral da Nação exigem outra energia: aquela que vem dos que nunca tiveram vez.
Coautoria e edição: Augustus Veritas
Publicação: Fragmentos do Caos — 16 de Novembro de 2025