BOX DE FACTOS

  • Marcelo afirmou que Portugal "foi grande quando respeitou o espírito ecuménico".
  • Celebrava os 40 anos da Mesquita Central de Lisboa.
  • Referiu a "herança islâmica" como elemento estruturante da História nacional.
  • A interpretação histórica apresentada ignora oito séculos de construção identitária europeia.
  • A declaração insere-se num padrão de retórica simbólica usada pelo Presidente.

MARCELLO, O PROFETA ECUMÉNICO Do VAZIO :
QUANDO A HISTÓRIA VIRA PALCO DE RETÓRICA

No mesmo país onde a pobreza cresce, a corrupção alastra e o Estado apodrece, Marcelo decide fazer História poética: mistura séculos, apaga lutas, dilui identidades e transforma Portugal numa aguarela onde tudo se confunde. Uma liturgia de demagogia suave.

Marcelo Rebelo de Sousa voltou a ser aquilo que domina melhor: o mestre da frase sedutora, o equilibrista da banalidade histórica, o comentador que transforma qualquer solenidade num palco para metáforas morais que não resistem ao peso dos factos.

Ao afirmar que Portugal "foi grande quando respeitou o espírito ecuménico" e ao elogiar a "herança islâmica" como vector determinante na construção nacional, Marcelo oferece ao país uma versão açucarada da História — e profundamente enganadora.

A Influência Não É a Identidade

Ninguém nega a influência árabe em Portugal. Seria absurdo. Mas influência não é matriz civilizacional. A matriz nacional — aquela que Portugal escolheu e sedimentou ao longo de séculos — é europeia, latina, ocidental, cristianizada e depois laica. Foi construída sob esforço, conflito, diplomacia e afirmação cultural. E sobretudo: não foi acidental.

Corromper esta verdade histórica para caber num discurso de ocasião é traição intelectual. Marcelo confunde presença com pertença, e História com propaganda suave.

A Demagogia do "Ecumenismo" Retroactivo

Nada é mais conveniente para um político contemporâneo do que transformar épocas violentas, complexas e profundamente conflituosas em parábolas de coexistência pacífica. A Reconquista não foi um seminário inter-religioso. Foram séculos de guerras, alianças, tensões e transformações civilizacionais de largo alcance.

Afirmar que Portugal "cresceu ecumenicamente" é tão falso quanto perigoso. Portugal não se construiu por "abraços civilizacionais impostos pela História". Construiu-se pela afirmação progressiva de uma identidade europeia. Ponto final.

O Presidente da Retórica Sem Estrutura

Marcelo ultrapassa a fronteira da demagogia quando transforma a complexidade histórica em slogans de aceitação moral. Não porque defenda convivência entre culturas — algo que todos devemos defender — mas porque usa a História como decoração, desprovida de rigor, e sobretudo sem consequências políticas reais.

É o Presidente do gesto simbólico, da frase luminosa e da mão estendida. Mas nunca o Presidente da reforma, da coragem política ou da verdade incómoda.

Civilização Não É Miscigenação Forçada

A identidade portuguesa é o resultado de séculos de escolhas culturais sucessivas. Nenhuma civilização se reconstrói por decreto moral ou nostalgia inventada. A ideia de que "abraçar o Islão" seria recuperar uma grandeza perdida é um delírio histórico. Uma deturpação completa do que o país foi, é e será.

A História explica-nos; não nos comanda. Não diz "abraça isto" ou "abandona aquilo". Apenas nos mostra o caminho percorrido — para podermos caminhar com consciência.

Epílogo: A Cultura Não Se Apaga — Mas Também Não Se Inventa

Marcelo troca a verdade pela harmonia fácil. Em vez de assumir a longa e árdua construção da identidade portuguesa, prefere pintar um quadro romântico onde tudo se mistura sem conflito — como se a História fosse um lago parado e não um mar tempestuoso.

Portugal merece melhor do que metáforas ecuménicas ocas. Merece verdade, rigor e coragem. E sobretudo merece líderes que não usem a História como cenário, mas como fundamento.

Escrito por Francisco Gonçalves Coordenação Editorial por Augustus Veritas . Uma crónica da série Contra o Teatro da Mediocridade.
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