Europa : O caminho para a Soberania Digital

Europa quer mais soberania — e Portugal, onde anda?
Em junho de 2024, o Ministério de Assuntos Digitais da Dinamarca anunciou a migração do Windows e do Microsoft 365 para Linux e LibreOffice. A medida seguiu-se ao fim do suporte oficial ao Windows 10 (14 de outubro) e visa reduzir custos e reforçar a soberania digital.
A Europa, que tanto se orgulha da sua tradição de liberdade e autonomia, demorou a perceber que a soberania digital é tão vital como a soberania energética ou alimentar. Durante mais de uma década, o velho continente alimentou os monopólios tecnológicos americanos, entregando-lhes não só o dinheiro dos nossos impostos, mas também os dados, as comunicações e o controlo das infraestruturas críticas do continente.
Enquanto isso, países como a Dinamarca e alguns estados alemães começaram, com pragmatismo e coragem, a trilhar o caminho da independência tecnológica — trocando as licenças e subscrições caríssimas da Microsoft por soluções abertas, auditáveis e europeias, como Linux, LibreOffice e Nextcloud. Afinal, não se trata apenas de software — trata-se de autonomia política e estratégica.
E Portugal?
Ah, Portugal... continua à espera de "orientações" e "planos de transição digital", enquanto paga milhões todos os anos em licenças de software proprietário, mantendo ministérios e escolas reféns de um ecossistema que não compreende, não controla e não pode adaptar.
Num país onde há talento em abundância, falta apenas vontade política e visão para apostar seriamente em open source, formação e inovação interna. Poderíamos já hoje ter um sistema operativo nacional baseado em Linux, uma suite de produtividade pública e centros de dados soberanos, geridos por universidades e empresas portuguesas.
Mas ainda vivemos, digitalmente, num regime de dependência colonial — desta vez, não dos impérios de outrora, mas das Big Tech. E enquanto outros constroem liberdade, nós continuamos a pagar por grilhões digitais.
A história ensina: quem não controla o seu código, não controla o seu destino.
— Francisco Gonçalves / Fragmentos do Caos