Entre a Propaganda e o Medo: Crónica de um Jornalismo Morto

Notícias com Dono: A Democracia da Mentira
BOX DE FACTOS
- Grande parte dos media portugueses depende financeiramente de subsídios e contratos públicos.
- Os jornais e televisões de referência pertencem a grupos empresariais com interesses políticos e económicos cruzados.
- O jornalismo independente é asfixiado pela falta de financiamento e pela precariedade das redações.
- As estatísticas e "estudos oficiais" são frequentemente usados como instrumentos de manipulação política.
Jornalixo: O Quarto Poder que se Vendeu
Em Portugal, o jornalismo perdeu a independência e, com ela, a dignidade. Vive da generosidade do Estado e da publicidade institucional, servindo o poder que deveria fiscalizar. Os media transformaram-se em empresas de relações públicas, onde a verdade é um produto negociável e o silêncio, uma forma de sobrevivência.
Os jornalistas que ainda ousam investigar são ostracizados, empurrados para a periferia digital ou para o desemprego. As redações encolhem, os directores almoçam com ministros, e as notícias são escritas para agradar aos financiadores. É o triunfo do jornalixo: um híbrido de propaganda e entretenimento, travestido de informação pública.
A dependência que mata a verdade
Durante décadas, o Estado habituou os media a viver de apoios e incentivos. Chamaram-lhe "apoio à comunicação social", mas foi antes uma forma subtil de controlo. Quando o jornal depende do poder político para pagar salários, a verdade passa a ser um luxo perigoso. E assim, pouco a pouco, o jornalismo foi-se transformando em serviço de manutenção do sistema — não de questionamento.
Os números e a manipulação
O truque é velho e eficaz: usar as estatísticas como instrumentos de hipnose colectiva. Apresenta-se um número, omite-se o contexto e cria-se uma narrativa conveniente. O cidadão acredita que o país prospera porque o gráfico sobe — mesmo que a sua carteira continue vazia. É o poder a usar a matemática como maquilhagem moral.
Elites, censura e conveniência
As elites portuguesas, políticas e económicas, não precisam censurar: controlam o acesso, os patrocínios, os convites e as carreiras. A autocensura tornou-se o filtro natural da profissão. Fala-se do que convém, silencia-se o que ameaça, e tudo o resto se disfarça de imparcialidade jornalística.
"A primeira vítima da dependência financeira é a coragem; a segunda, a verdade."
O povo amestrado
O público, habituado a décadas de manipulação, já não distingue notícia de marketing. Foi domesticado pela rotina mediática: telejornais que repetem o mesmo enredo, capas de jornal que reciclam o mesmo medo, e debates que fingem pluralidade enquanto todos dizem o mesmo. O resultado é um povo exausto, cínico e conformado — o cenário ideal para que o poder continue a governar sem ser questionado.
Epílogo
Portugal vive há meio século sob o mito de uma imprensa livre. Mas a liberdade que vive de subsídios não é liberdade; é concessão. Enquanto o jornalismo for um negócio tutelado pelo Estado e pelas elites, a informação continuará a ser o reflexo de quem a paga — não de quem a procura.
Artigo de opinião em co-autoria por Francisco Gonçalves & Augustus Veritas. Formato FC-Chronic-News com metadados Google News integrados.