Portugal e a Corrupção: o Norte Moral que Nunca Quisemos Alcançar

Box de Factos
– Em 2005, o Banco Mundial divulgou o estudo "Dez mitos sobre a governação e corrupção", coordenado por Daniel Kaufmann.
– Segundo o estudo, eliminar a corrupção poderia elevar Portugal ao nível económico e social da Finlândia.
– A corrupção retira rendimento às famílias pobres, distorce impostos e multiplica "subornos" nos serviços públicos.
– Estudo publicado no jornal Público (28 de Novembro de 2012). (fonte original)

1. O diagnóstico esquecido

Já em 2012 — há treze anos — o Banco Mundial deixava o aviso: "O fim da corrupção colocaria Portugal ao nível da Finlândia."
Não era uma metáfora, mas o resultado de um estudo rigoroso. Daniel Kaufmann, então director dos Programas Globais do Banco Mundial, demonstrava com dados o que todos intuíamos: o preço da corrupção é o atraso.

O relatório estimava que um país com baixa qualidade de governação poderia triplicar o seu rendimento per capita ao eliminar práticas corruptas. E acrescentava: reduzir a corrupção significa também reduzir a mortalidade infantil, a iliteracia e as desigualdades estruturais.

2. Corrupção: o imposto dos pobres

Nos países em desenvolvimento — e Portugal, tristemente, encaixa-se na categoria moral — a corrupção age como um imposto regressivo. Os mais ricos compram favores; os mais pobres pagam subornos. O resultado é perverso: quem menos tem, mais paga.
Kaufmann explicava que, em contextos assim, "as famílias com menores rendimentos acabam por gastar parte do seu salário em subornos para aceder a serviços públicos".

Em Portugal, o fenómeno é visível sobretudo nos municípios e juntas de freguesia, onde os esquemas de compadrio, adjudicações duvidosas e obras públicas inflacionadas representam, segundo estimativas da época, 60% da corrupção nacional.

3. A Finlândia como metáfora moral

Não é o frio que torna os finlandeses éticos — é a cultura de responsabilidade, transparência e educação. O Banco Mundial sugeria que, se Portugal melhorasse os seus indicadores de governação e controlo da corrupção, poderia alcançar o nível de desenvolvimento da Finlândia. Não se tratava de utopia, mas de estatística. A diferença entre Helsínquia e Lisboa não está na latitude — está na atitude.

"Eliminar a corrupção é a reforma mais lucrativa que uma nação pode empreender."
— Daniel Kaufmann, Banco Mundial

4. Portugal entre o vício e a oportunidade

Décadas após o estudo, pouco mudou. Continuamos atolados em casos e casinhos, com os mesmos rostos e a mesma indignação ritual. A corrupção deixou de ser apenas um crime — tornou-se um modo de vida institucionalizado, um "jeitinho" elevado a virtude social.

Mas a história mostra que o caminho é reversível. A Islândia provou-o ao julgar os seus banqueiros. A Finlândia provou-o ao investir em transparência e educação cívica. Portugal ainda pode prová-lo, se decidir finalmente ser adulto e pôr a ética no orçamento.

5. Conclusão: o norte que nos falta

Entre Lisboa e Helsínquia há mais do que 4 000 quilómetros — há uma diferença moral abissal. O Banco Mundial já nos mostrou o mapa: basta cortar a raiz da corrupção. O problema é que, por cá, as raízes estão protegidas por decreto, amizades e silêncio.

Um país sem ética é uma casa sem alicerces. E Portugal, cansado de remendos, precisa de reconstruir-se de baixo para cima — com verdade, justiça e vergonha na cara. Só assim um dia poderemos olhar para o norte e dizer, com serenidade: "Chegámos."

A alta corrupção das elites em Portugal é um crime contra todo um povo,
e, logo, um crime contra a humanidade e um atentado ao progresso de Portugal.

Francisco Gonçalves -Fragmentos do Caos


Fontes credíveis

Publicado em Fragmentos do Caos – Série Contra o Teatro da Mediocridade.
© Francisco Gonçalves

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