BOX DE FACTOS

  • Marques Mendes afirmou ser "o candidato experiente e com capacidade política".
  • A frase ignora o historial de décadas da política portuguesa: muita experiência, pouca transformação.
  • O conceito de "experiência política" em Portugal raramente significa competência governativa.
  • O país continua à espera de renovação real, enquanto velhos protagonistas reivindicam protagonismo eterno.

A Experiência que Nunca Mudou Nada: A Autoproclamação de Marques Mendes

Quando um político português diz que é "o experiente", raramente está a falar do país — está a falar do sistema que o manteve vivo durante décadas.

Marques Mendes declarou-se, com convicção firme, "o candidato experiente e com capacidade política". A frase, se não fosse trágica como sintoma, seria uma obra-prima de humor involuntário. Revela como a política portuguesa confunde longevidade com competência, e presença mediática com liderança de visão.

Experiência: a palavra mais maltratada da política portuguesa

É verdade: Marques Mendes tem experiência. Mas o país precisa urgentemente de perguntar: experiência em quê?

A resposta é simples — e desconfortável:

  • experiência em negociações internas de partido,
  • experiência em sobreviver politicamente sem nunca transformar o país,
  • experiência em comentário televisivo semanal,
  • experiência no jogo institucional onde tudo muda para que tudo fique na mesma.

Portugal teve décadas de políticos "experientes". E o que ganhou com isso? Um país pobre, bloqueado e eternamente adiado.

Capacidade Política — ou capacidade de permanecer no sistema?

A expressão "capacidade política" é uma daquelas fórmulas vagas que cada um interpreta como quer. Mas, na prática portuguesa, significa quase sempre:

  • manter influência mesmo sem cargo,
  • dizer tudo e o seu contrário com igual convicção,
  • ser omnipresente nos media,
  • e nunca arriscar o suficiente para falhar realmente.

Isto não é capacidade política. É capacidade de sobrevivência no sistema.

E o país precisa exactamente do contrário: gente que esteja disposta a quebrar o sistema, não a preservá-lo.

O país pede ruptura; a política oferece reciclagem

Estamos diante de um paradoxo estrutural: o país exige uma transformação profunda, mas os nomes que surgem do sistema são sempre os mesmos — figuras com décadas de carreira que nunca realizaram as mudanças que agora prometem.

O problema não está em Marques Mendes como pessoa. Está na ideia de que a experiência política é, por si só, um mérito.

Mas numa democracia frágil, marcada por décadas de estagnação, a experiência pode muito bem ser evidência de cumplicidade.

A ironia final

Quando um político diz: "Sou o experiente e com capacidade política."

o que realmente está a afirmar é:

"Estou cá há tanto tempo dentro deste sistema, que já me convenci de que o país precisa de mim."

Portugal não precisa de mais experiência no sistema. Precisa de visão, coragem e ruptura. Precisa de sair da repetição infinita dos mesmos nomes e das mesmas fórmulas falhadas.

Conclusão: experiência não é futuro

Marques Mendes pode afirmar que tem experiência. E tem — ninguém o duvida. Mas a questão essencial é outra:

A experiência dele serve Portugal — ou serve apenas o sistema que o produziu?

O país saberá a resposta. Basta olhar para os últimos quarenta anos.

Notas finais - Quatro Décadas de Presença Contínua

Marques Mendes — Há 40 anos a enganar Portugal

A linha temporal acima dispensa interpretações benevolentes. Durante quatro décadas, Marques Mendes circulou entre gabinetes ministeriais, secretarias de Estado, pastas parlamentares, direcções partidárias e, mais tarde, um lugar cativo na televisão, onde consolidou uma influência política sem paralelo.

Não houve intervalo, nem hiato, nem afastamento real: apenas uma presença contínua, metamorfoseada conforme a necessidade do sistema.

Os primeiros anos, passados em gabinetes e assessorias, foram o período de aprendizagem dentro da engrenagem. Os dez anos seguintes, ao lado de Cavaco Silva, fixaram-no no núcleo duro do poder. Depois, entre governos, tornou-se estratega de bastidores e vice-presidente do PSD. O regresso aos Assuntos Parlamentares no início dos anos 2000 mostrou que continuava a ser peça útil.

Por fim, a presidência do PSD e — sobretudo — a carreira de comentador político tornaram-no uma constante da política nacional, mesmo quando não exercia funções executivas.

A imagem mostra, de forma quase cirúrgica, aquilo que muitas vezes se tenta ocultar: não estamos perante um candidato novo, nem renovador, nem externo ao sistema — mas perante alguém que vive dentro dele desde o início da década de 80.

Quase ninguém em Portugal acumulou tantos anos dentro da máquina política. Quase ninguém permaneceu tão perto do poder, mesmo quando formalmente fora dele. E poucos, muito poucos, transformaram essa longevidade em autoridade moral autoatribuída.

A timeline não é apenas uma cronologia: é o retrato fiel de um país onde os mesmos nomes ocupam o palco durante uma vida inteira — e onde a palavra "experiência", tantas vezes usada como virtude, é afinal a marca mais evidente da estagnação.

Artigo escrito em co-autoria por Francisco Gonçalves & Augustus Veritas.

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