Entre Poder e Favor: O Caso que Abala a Cúpula

Por Francisco Gonçalves  |  Série: Contra o Teatro da Mediocridade


Box de Factos

  • Arguido: Nuno Rebelo de Sousa (filho do Presidente da República) foi constituído arguido no Caso das Gémeas Luso-Brasileiras.
  • Investigações em Espanha: o seu nome surge referido em mensagens ligadas ao Caso Koldo, uma investigação de fraude fiscal e corrupção avaliada em 182 milhões de euros.
  • Comissão Parlamentar: durante a audição, Nuno Rebelo de Sousa invocou o direito ao silêncio perante os deputados.
  • Outras referências: contactos sobre a expansão da Santa Casa no Brasil foram também noticiados, sem acusação formal.

Num país que há muito confunde poder com privilégio, a corrupção parece ter-se instalado nas veias da República. O que começou como uma história de duas crianças doentes transformou-se num espelho de um Estado desigual — onde o nome certo abre portas que deveriam estar fechadas a todos.

1. O Caso das Gémeas

Em junho de 2024, o Ministério Público constituiu Nuno Rebelo de Sousa arguido no Caso das Gémeas, que investiga o alegado favorecimento de duas gémeas luso-brasileiras ao acesso ao medicamento Zolgensma, avaliado em mais de dois milhões de euros por dose. O filho do presidente negou irregularidades e declarou que apenas tentou "ajudar um amigo de família". Ainda assim, a Procuradoria viu indícios de influência indevida sobre estruturas públicas de saúde.

Em audição parlamentar de julho de 2024, o arguido invocou o direito ao silêncio em quase todas as respostas — um gesto legalmente legítimo, mas politicamente devastador. O país ouviu o silêncio onde esperava explicações.

2. As Sombras de Espanha

Poucos meses depois, o nome de Nuno Rebelo de Sousa surgiu mencionado em mensagens trocadas entre empresários espanhóis investigados no chamado Caso Koldo — um esquema de fraude fiscal, tráfico de influências e corrupção em contratos públicos. As mensagens referiam uma "reunião com o filho do presidente de Portugal" e discussões sobre percentagens em negócios energéticos. O visado desmentiu qualquer contacto com os envolvidos, classificando tudo como "fantasia absurda".

3. A Fronteira Ética

Entre a inocência presumida e a ética pública há uma fronteira tênue, mas essencial. Mesmo sem condenação, o simples facto de o nome de um presidente ou do seu filho surgir repetidamente em investigações mina a confiança popular nas instituições. A justiça seguirá o seu curso — mas a moral, essa, já foi julgada pelo olhar cansado do povo.

O poder, quando deixa de ser exemplo, transforma-se em farsa. E um país governado pela farsa é um país que adoece em silêncio.

4. O Que o País Precisa de Ouvir

Portugal não precisa de mais escândalos — precisa de transparência. Precisa de líderes que enfrentem a verdade em vez de a contornarem com assessores. Precisa, sobretudo, de cidadãos que exijam ética antes de promessas. Um país só se liberta quando o seu povo deixa de tolerar a vergonha como rotina.


Fontes: RTP Notícias | Diário de Notícias | Executive Digest | Correio da Manhã | Jornal Económico | El Mundo (Espanha)
Série "Contra o Teatro da Mediocridade" — Publicado em Fragmentos do Caos

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