BOX DE FACTOS

  • Fernando Pinto saiu da administração da TAP no final de janeiro de 2018.
  • Cinco dias depois assinou um contrato milionário de "consultoria".
  • O contrato foi celebrado através de uma empresa que ainda não existia legalmente.
  • Recebeu mais de 1,62 milhões entre 2018 e 2020.
  • Equivalente a 67 mil euros por mês pagos por uma empresa pública.

A Porta Giratória da TAP: Quando a Corrupção Já Nem se Esconde

Em Portugal, a corrupção não vive na sombra — vive ao sol. Cresce, sorri, assina contratos e recebe milhões com a bênção de quem devia defender o bem público.

Há escândalos que chegam como trovões. Outros, como este, chegam como uma confirmação — uma espécie de "nós avisámos". O caso de Fernando Pinto e da TAP não é apenas uma irregularidade: é o retrato vivo da promiscuidade entre Estado e interesses privados, num país em que a decência administrativa parece opcional.

Cinco dias. Apenas cinco.

O gestor brasileiro sai da administração da TAP no final de janeiro de 2018. Cinco dias depois — cinco! — está a assinar um contrato milionário como consultor. Não um contrato menor, não um apoio pontual, mas um acordo de 67 mil euros por mês. Tudo isto através de uma empresa que nem sequer existia juridicamente no momento do contrato.

É aqui que a história deixa de ser apenas chocante e passa a ser quase humor negro. Uma empresa-fantasma, sem existência legal, é usada para celebrar um dos contratos mais chorudos da história recente da companhia aérea pública.

Portugal, a República das Portas Giratórias

A narrativa repete-se há décadas: um administrador público sai pela porta da frente e entra pela porta da "consultoria" com mais dinheiro e menos escrutínio. A função do contribuinte é simples: pagar, calar e esperar pelo próximo escândalo.

A TAP, sempre apresentada como "estratégica", "essencial", "património nacional", parece ser sobretudo uma vaca leiteira para gestores bem posicionados. O país real, o que trabalha e paga impostos, serve apenas para sustentar esta elite que dança entre cargos e contratos como se o erário público fosse um condomínio privado.

1,62 milhões pagos sem pestanejar

Entre 2018 e 2020, 1,62 milhões de euros saíram diretamente dos cofres públicos para o bolso de Fernando Pinto. E ninguém parou, ninguém questionou, ninguém disse: "esperem, isto não parece legal, ético ou sequer normal".

Claro que não. Em Portugal, a normalidade é outra: a interligação de interesses, o compadrio, a proteção mútua, e o eterno ciclo de impunidade. O país vive num estado em que a suspeita já nem provoca indignação — apenas um "mais um".

O custo moral para o país

Cada episódio como este destrói mais um pedaço da confiança colectiva. E a confiança, essa sim, não se renacionaliza, não se compra, não se recupera com comunicados. É perdida para sempre quando o cidadão se apercebe de que vive num teatro onde todos fingem: fingem que há escrutínio, que há ética, que há responsabilidade.

Mas a verdadeira peça, é sempre a mesma: o Estado paga, os gestores lucram, e o povo observa, cansado, mas preso à plateia.

O país não falha por falta de dinheiro. Falha por excesso de impunidade. Enquanto a porta giratória continuar aberta, nenhuma reforma, nenhum plano, nenhum governo conseguirá mudar o destino desta democracia capturada.
Escrito por Francisco Gonçalves, com coautoria conceptual de Augustus Veritas.
Série: Contra o Teatro da Mediocridade
🌌 Fragmentos do Caos: Blogue Ebooks Carrossel
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