O Portugal da Espertice Saloia

# Governo consegue excedente à custa de empréstimos do PRR

Excedente de 0,1% — diz o ministro Miranda Sarmento com ar triunfante. Mas o "milagre" tem truque: o Governo corta nos fundos do PRR e substitui-os por novos empréstimos a taxas semelhantes. É como trocar a dívida com sotaque europeu por dívida com sotaque doméstico. O mesmo remendo, apenas outra linha na folha de Excel.

Portugal é o país onde se confunde esperteza com inteligência. Onde a contabilidade criativa substitui a estratégia, e o "excedente" nasce de um jogo de sombras em que o Tesouro finge que ganha enquanto o contribuinte perde mais um pedaço de pele.

"Temos folga!", anuncia o Governo. Folga, sim — no cinto do contribuinte.

Abdicar de 311 milhões do PRR e substituí-los por dívida é como tirar água do poço e depois regar o mesmo poço para fingir que encheu. Um truque à moda portuguesa: pintar de dourado o que continua a ser estanho, e chamar-lhe progresso.

Mas o povo, esse, já conhece a ladainha. Enquanto o discurso político proclama sucesso, a realidade conta outra história: hospitais sem médicos, professores em fuga, tribunais atolados, e famílias esmagadas por impostos. A "folga" orçamental é, afinal, a folga moral de quem já perdeu o pudor de enganar um país inteiro.

Portugal, mestre da espertice saloia, consegue transformar o fracasso em façanha, e a dívida em vitória. Só falta agora que o Governo declare como património nacional o seu maior talento: a arte de fazer de conta.

"Artigo autoria de Francisco Gonçalves "