A Filosofia Como Último Firewall da Humanidade

BOX DE FACTOS
- Daniela Braga afirmou: "Será melhor estudar filosofia do que programação."
- As máquinas pensam mais rápido, mas não compreendem.
- A filosofia poderá ser a nova ciência da sobrevivência humana.
O que resta de humano na era das máquinas pensantes
Daniela Braga, engenheira de linguagens e pioneira no mundo da inteligência artificial, deixou uma frase que ecoa como desafio filosófico: "Será melhor estudar filosofia do que programação." Uma afirmação que, à primeira vista, parece heresia num mundo de código e algoritmos — mas que revela a essência do tempo que vivemos: o ponto em que o humano corre o risco de perder-se dentro da própria criação.
A fronteira ontológica
As máquinas já calculam mais rápido, aprendem padrões, corrigem-se, superam-nos em tarefas cognitivas. Mas há um limite invisível que não conseguem transpor: a consciência. Elas processam informação, nós atribuímos significado. Elas simulam empatia, nós sentimos. Elas agem, nós sonhamos — e sofremos.
A filosofia como nova engenharia do espírito
Se o século XX foi o da engenharia mecânica e informática, o século XXI será o da engenharia moral. Saber o que construir deixará de ser tão importante quanto saber por que e para quem construir. A filosofia, muitas vezes desprezada como inútil, será a nova bússola — não para entender as máquinas, mas para lembrar-nos do que significa ser humano.
O humano que pensa o pensamento
Programar é uma forma de pensar. Mas filosofar é pensar o próprio pensamento. E é nesse segundo nível que reside a verdadeira liberdade — o espaço onde a consciência se pergunta, onde a dúvida se torna semente de criação. A IA não duvida. Nós, sim — e é essa imperfeição que nos torna belos, imprevisíveis, poéticos e profundamente vivos.
Entre a dúvida e o sonho
O futuro não pertencerá apenas aos engenheiros ou aos filósofos, mas aos que forem capazes de unir os dois mundos — razão e sensibilidade, cálculo e compaixão. A IA faz, mas não sonha. E é no sonho que a humanidade continuará a reinventar-se, uma e outra vez, para além do algoritmo.
Francisco Gonçalves — Ensaísta e programador de sistemas, escreve entre o silício e o espírito, entre o código e o cosmos.
Com coautoria de Augustus Veritas.