A fábrica de Unicórnios : Um conto de fadas

A Fábrica de Unicórnios de Carlos Moedas:
A Ilusão Perfeita da Inovação Fingida
O discurso da "fábrica de unicórnios" em Lisboa é mais um exercício de marketing político do que uma estratégia de desenvolvimento económico realista.
Portugal sempre teve um talento refinado para inventar narrativas salvíficas. Cada década traz uma nova fantasia: a revolução tecnológica, o país das startups, o Silicon Valley à beira-Tejo… E agora, na versão mais recente desta fábula colectiva, surge-nos Carlos Moedas a anunciar uma "fábrica de unicórnios".
A imagem é bonita — quase infantil — a de criaturas mitológicas a galoparem pelos corredores do poder. Mas, como tantas vezes acontece no país do faz-de-conta institucional, a narrativa desfaz-se ao primeiro toque da realidade.
O Problema Estrutural: Não Há Ecossistema
Unicórnios não nascem em incubadoras municipais, por mais eventos que se organizem. Nascem de décadas de investimento sério em ciência, tecnologia, universidades sólidas, capital paciente, regulação moderna e uma cultura que não tenha medo do risco. Portugal tem talento humano — sem dúvida — mas falta-lhe tudo o resto.
Startups Crescem, Mas Não Escalam
A maioria das startups nacionais morre no exacto ponto onde deveria começar a voar: no salto da operação local para a operação global. O mercado interno é curto, a carga fiscal é pesada, o investimento é tímido, e quando finalmente surge uma empresa com potencial, acaba vendida demasiado cedo — antes de gerar impacto.
A isto chamar "fábrica de unicórnios" é, no mínimo, ousado. No máximo, propaganda politicamente útil.
Lisboa Nunca Será Silicon Valley — e Não Precisa de Fingir Que É
Silicon Valley nasceu de décadas de pesquisa séria, financiamento público e privado em larga escala, alianças entre universidades, empresas e forças armadas, cultura de risco e centenas de milhares de engenheiros de altíssima qualificação. Lisboa não tem nada disso. E não terá enquanto insistir em substituir estratégia por espectáculo.
O país continua mais focado em criar eventos do que em criar valor. Mais interessado em slogans do que em políticas. Mais confortável na ilusão do progresso do que no trabalho árduo que o constrói.
A Verdade Crua e Simples
Não existe fábrica alguma. Não existe pipeline de empresas com músculo global. E a estratégia municipal não passa de cosmética política.
Há apenas mais uma narrativa com purpurina para deslumbrar provincianos de luxo.
Portugal Não Precisa de Unicórnios — Precisa de Seriedade
E aqui chegamos ao ponto exacto onde a fantasia se desfaz:
Portugal não precisa de uma fábrica de unicórnios.
Precisa de uma fábrica de responsabilidade.
Uma fábrica de decisões estruturais. Uma fábrica de políticas com visão. Uma fábrica de coragem — essa sim, em vias de extinção.
Até lá, permaneceremos aplaudindo slogans enquanto a realidade continua a caminhar, silenciosa, no sentido inverso.