A Europa tornou-se perita em regular o passado, incapaz de inspirar o futuro

BOX DE FACTOS
- A UE vai começar a taxar todas as encomendas abaixo de 150 euros.
- Medida justificada pelo "grande volume de mercadorias baratas importadas da Ásia e da China".
- Para muitos, é mais um passo na burocratização e perda de competitividade europeia.
A União Europeia e a Burocracia do Imposto: quando o poder deixa de criar e só sabe cobrar
A mais recente medida da União Europeia — taxar todas as encomendas abaixo de 150 euros — é um símbolo perfeito daquilo em que nos tornámos: um continente que já não cria, apenas regula. Uma civilização que, ao perder o ímpeto da inovação, encontra na burocracia a sua nova religião.
A rapidez da cobrança e a lentidão do progresso
É notável a agilidade com que Bruxelas consegue actuar quando se trata de impostos. Tudo é célere: pareceres, votações, acordos. Mas quando se fala de ciência, educação, energia limpa ou visão estratégica — o ritmo muda. Multiplicam-se comissões, estudos e relatórios que morrem em gavetas douradas. A União Europeia tornou-se uma máquina eficiente… no que não deveria ser.
Enquanto isso, os gigantes asiáticos reinventam o comércio digital, optimizam cadeias logísticas e desafiam os paradigmas da indústria global. A resposta europeia? Taxar. Sempre taxar. Como se o peso da burocracia pudesse deter o fluxo do mundo.
O argumento da protecção
Dizem que a medida visa "proteger a economia europeia" das importações baratas vindas da Ásia. Mas proteger o quê, se já pouco produzimos? O que é apresentado como defesa da indústria é, na verdade, um acto de desespero fiscal — o reflexo de uma União incapaz de competir pela criatividade e pela produtividade, e que escolhe competir pela penalização.
Entre a fiscalidade e a decadência
Portugal segue o mesmo caminho: o de um Estado que já não governa, apenas administra carências e cobra impostos. A UE, com a sua teia de directivas e a sua fé na uniformização, transforma-se num espelho ampliado da nossa mediocridade nacional. A diferença é apenas a escala — a mentalidade é a mesma.
Em vez de simplificar, complexifica. Em vez de libertar, regula. Em vez de investir na inteligência, investe na cobrança. E, assim, o velho continente vai-se convertendo num grande cartório, com selo digital e alma de papel.
O futuro hipotecado
Ao taxar as pequenas encomendas, a UE não está apenas a arrecadar cêntimos — está a hipotecar o futuro da economia digital europeia. Empreendedores, criadores e consumidores serão novamente os sacrificados de um sistema que pensa como tesouraria, não como civilização. Nenhum império sobrevive apenas com impostos. Nenhum povo floresce sob o peso do formulário.
Conclusão — o espírito que falta à Europa
A Europa precisa de reencontrar a sua chama. A coragem de voltar a ser o espaço das ideias, da ciência e da criação. Enquanto se limitar a cobrar, a regular e a punir, continuará a afundar-se na irrelevância que ela própria construiu. O que falta não é dinheiro — é visão. E sem visão, nenhum imposto salvará o que resta do sonho europeu.
Francisco Gonçalves — Ensaísta e programador, crítico da mediocridade burocrática e defensor de uma Europa livre, criativa e inteligente.
Com coautoria de Augustus Veritas.