50 Anos de PS e PSD: A Dupla Perfeita para Manter Portugal Pobre e Pacato

BOX DE FACTOS
- Desde o 25 de Abril, PS e PSD (incluindo coligações PSD/CDS) governaram a esmagadora maioria do tempo, revezando-se na gestão do regime.
- O país mantém-se nos lugares de cauda da Europa em salários, produtividade e investimento em ciência, com forte dependência de turismo e fundos externos.
- Os últimos 14 anos tiveram marca PS: governos de José Sócrates e António Costa, entre bancarrota moral, promiscuidade com interesses privados e degradação dos serviços públicos.
- Agora na oposição, o PS faz de fiscal severo do PSD, esquecendo convenientemente a responsabilidade própria na pobreza estrutural do país.
- A alternância PS/PSD funcionou como um condomínio político: mudou a cor das gravatas, mas não o modelo de país — pequeno, submisso e eternamente "em ajustamento".
50 Anos de PS e PSD: A Dupla Perfeita para Manter Portugal Pobre e Pacato
1. Meio século de alternância sem alternativa
Há cerca de 50 anos que Portugal vive sob uma liturgia política previsível: uns anos manda o PS, outros anos manda o PSD (às vezes mascarado de coligação), e quando o cenário aperta chamam o CDS para fazer de bengala ideológica. Mudam os slogans, as caras nas campanhas, os vídeos emocionais, mas o guião nuclear é sempre o mesmo: manter o país num estado de modernização controlada, suficientemente pobre para obedecer, suficientemente domesticado para não explodir.
A esquerda de governo e a direita moderada construíram um pacto tácito: divergem em retórica, convergem na prática. Privatizam juntos, nacionalizam prejuízos juntos, protegem interesses instalados juntos. E, quando algo corre mal, apontam sempre o dedo a um ente abstrato: "os mercados", "a Europa", "a conjuntura", nunca ao seu próprio legado de decisões erradas, cobardias e negócios mal explicados.
2. Sócrates e Costa: dois "brilhantes" capítulos da decadência
No currículo recente do PS, dois nomes brilham com particular intensidade irónica: José Sócrates e António Costa. O primeiro transformou o país num laboratório de obras faraónicas, promiscuidade político-empresarial e engenharia financeira criativa. Vendeu-se a ilusão do Portugal moderno, tecnológico, de betão reluzente e auto-estradas para todo o lado. Ficou a dívida, a suspeita permanente e uma sensação amarga, de país enganado pelo roubo escandaloso de Portugal.
António Costa surgiu como o bombeiro que vinha apagar o incêndio, o homem da "geringonça" estável, do diálogo, da pontaria certa em Bruxelas. Durante anos, beneficiou de juros baixos, de um contexto europeu favorável e de receitas extraordinárias. E o que deixou para trás? Uma saúde em colapso, professores exaustos, transportes degradados, salários que mal acompanham a inflação e um rasto de casos, compadrios e influências que transformaram a palavra "governo" num sinónimo de pântano.
Hoje, o PS tenta vender a narrativa de que tudo isto foi um pequeno desvio, um detalhe de percurso. Como se os últimos 14 anos tivessem sido um workshop de iniciação à boa governação, e só agora, na oposição, o partido tivesse finalmente descoberto a moral pública.
3. Luís Carneiro, o fiscalizador tardio
Entra em cena Luís Carneiro, novo rosto da moralidade socialista, que se desdobra em conferências, entrevistas e declarações indignadas. Exige responsabilidade ao PSD, acusa cortes, denuncia opções injustas, fala de pobreza, falhas na saúde, salários indignos. Se um extraterrestre o ouvisse, juraria que o PS passou as últimas décadas na oposição, algures num exílio remoto, apenas agora autorizado a regressar ao debate.
A ironia é quase perfeita: o partido que governou a maior parte dos últimos 14 anos — somando Sócrates, Costa, geringonça e maioria absoluta — apresenta-se agora como paladino dos esquecidos, guardião dos fracos e oprimidos, fiscal implacável dos erros alheios. É como ver o incendiário a criticar a cor das novas mangueiras dos bombeiros.
4. PSD: o espelho confortável do desastre
Mas seria injusto fazer do PS o único vilão. O PSD foi, e continua a ser, o outro braço da mesma criatura. Governou com Cavaco durante o período dourado das entradas na CEE e dos fundos europeus, sem conseguir transformar essa oportunidade histórica numa economia robusta, diversificada e tecnológica. Governou depois com Durão, Santana, Passos, ora a gerir a bonança, ora a administrar a austeridade brutal. O resultado final é conhecido: empresas vendidas ao desbarato, serviços públicos amputados, uma geração inteira atirada para fora do país à procura de dignidade salarial.
O PSD gosta de se apresentar como o partido da responsabilidade e das contas certas. Contas certas para quem? Certas para a banca resgatada, para as parcerias público-privadas blindadas, para os concessionários de auto-estradas com rendas garantidas. Muito menos certas para quem vive de um ordenado minguado, para quem espera meses por uma consulta, para quem trabalha mas continua pobre.
5. Um país mantido pequeno por desenho
O traço comum entre PS e PSD é este: nenhum dos dois quis verdadeiramente um país grande. Preferiram um Portugal manejável, previsível, dependente de turismo, serviços de baixo valor acrescentado e fundos europeus. Um país onde a elite política e económica vive relativamente bem, à sombra de gabinetes, consultadorias e administrações, enquanto a maioria se arrasta num quotidiano de sobrevivência.
Reformar a justiça a sério? Perigoso. Combater a corrupção estrutural? Demasiado sensível. Mudar o modelo económico e tocar nos monopólios? Imprudente. O resultado é um Estado que se finge forte com o cidadão comum, mas se torna dócil com os grandes interesses. E uma população anestesiada por décadas de discursos, jogos de poder e alternância sem alternativa.
6. A amnésia programada como estratégia
Quando o PS, agora na oposição, vem exigir ao PSD tudo aquilo que nunca fez quando esteve no poder, não é um lapso de memória: é uma amnésia programada. O cálculo é simples: a maioria das pessoas está demasiado cansada, distraída ou desesperada para manter um registo de quem fez o quê, quando e com que consequências. Entre faturas, filas, ansiolíticos e redes sociais, o cidadão médio tem pouca energia sobrante para ser também historiador.
Essa amnésia conveniente é alimentada por campanhas de marketing político, comentadores alinhados, sondagens massajadas e um ciclo noticioso que vive de escândalo rápido e pouca memória. Hoje indigna-se com um caso, amanhã arruma-o numa gaveta, depois de amanhã já ninguém se lembra. Só a realidade, teimosa, permanece: salários baixos, serviços em colapso, emigração qualificada.
7. Epílogo: entre dois brilhos, o breu
Ao olhar para estes 50 anos de PS e PSD, percebe-se que o problema não está apenas nas pessoas concretas — Sócrates, Costa, líderes do PSD, ministros que passam do governo para a administração de empresas e vice-versa. O problema está num sistema que premiou a mediocridade esperta, a esperteza calculada, a habilidade de navegar entre interesses sem nunca os afrontar de frente.
Os dois "brilhantes" políticos que referes são apenas símbolos perfeitos de uma época: um brilho feito de marketing, manchetes e conferências, a esconder um breu de injustiça social, desigualdade e atraso estrutural. Agora, com o PS na oposição e o PSD no governo, o teatro recomeça com novos papéis e o mesmo texto. Luís Carneiro declama exigências, o PSD responde com indignação selectiva, e o país continua a caminho do futuro com motor de carroça.
O que falta, ainda, é o momento em que a maioria dos portugueses deixa de aceitar este guião como inevitável. O dia em que se perceber que alternância não é alternativa, e que a verdadeira ruptura não virá de quem viveu meio século a gerir a decadência como se fosse normalidade. Até lá, PS e PSD continuarão a proclamar-se indispensáveis — e Portugal continuará a ser o exemplo perfeito de como se pode destruir um país sem dar demasiado nas vistas.