Exílio Dourado dos Políticos — Quando o Povo Paga e o Poder Vai Ensinar Ética Lá

O Exílio Dourado dos Políticos
Quando o Povo Paga e o Poder Vai Ensinar Ética Lá Fora
BOX DE FACTOS
- Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que, após deixar a Presidência, pretende lecionar na Califórnia, nos EUA.
- O ex-Presidente afirmou que aproveitará a estadia para assistir aos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 2028.
- O cargo de docente visitante será financiado por instituições norte-americanas, mas o simbolismo político permanece — o de um governante que abandona um país sem reformas significativas.
- Desde Mário Soares, é tradição os ex-líderes portugueses buscarem reconhecimento internacional após carreiras internas inconclusivas.
A Aula que Faltou em Portugal
Marcelo vai ensinar ciência política na Califórnia. Ironia das ironias: o homem que passou anos a falar de tudo e a resolver nada, agora será professor da arte de governar. Que currículo mais perfeito para o século da aparência! Um político que transforma o comentário em teoria, a indecisão em pedagogia e a simpatia mediática em método académico. Portugal é o país onde o poder não deixa legado — apenas memórias de selfies, abraços e frases que soam bem. A academia estrangeira recebe-o agora como "case study" do carisma sem consequência.
Do Beija-Mão ao Diploma
Há um padrão que se repete: os políticos nacionais, findo o mandato, convertem-se em conferencistas internacionais, como se o fracasso administrativo se transformasse em sabedoria global. É o exílio dourado da classe dirigente — aquele que foge à prestação de contas e se refugia no prestígio académico estrangeiro. Afinal, é mais cómodo ensinar sobre democracia do que vivê-la, mais fácil dissertar sobre ética do que aplicá-la, mais agradável dar aulas em Los Angeles do que enfrentar a realidade em Lisboa.
Portugal — o país-escola dos que nunca aprendem
O episódio diz mais sobre Portugal do que sobre Marcelo. Aqui, quem falha é promovido; quem acerta, é esquecido. Os que prometeram reformas estruturais e se limitaram a discursos moralistas acabam a ensinar moral a outros povos. E o cidadão português, esse aluno exemplar da paciência, assiste, mais uma vez, à aula do conformismo — gratuita, obrigatória e eterna.
Epílogo — A Ironia Suprema
Talvez Marcelo ensine que o poder é uma arte de parecer virtuoso. Talvez fale de como um sorriso e uma citação de Aristóteles podem adiar reformas por décadas. Mas a verdadeira lição está deste lado do Atlântico: um povo que aceita tudo, até que o seu Presidente vá ensinar ética política ao mundo, sem nunca a ter aplicado em casa. Se esta for a última aula, que ao menos os portugueses aprendam a não se matricular de novo na mesma escola.
✍️ Francisco Gonçalves
Coautoria de Augustus Veritas — Série Contra o Teatro da Mediocridade