Cabo do Elevador da Glória: o fio gasto de um país que ainda desce quando pensa subir

Relatório: Cabo não certificado, manutenção arcaica, falha nos sistemas de travagem e ausência total de supervisão. O símbolo da Glória lisboeta transformado em metáfora da decadência nacional.

O velho elevador da Glória voltou a subir às manchetes — mas desta vez, não pelo seu charme nostálgico, nem pelo som metálico que embala turistas e memórias. Subiu porque desceu — moralmente, tecnicamente, simbolicamente. O relatório sobre o acidente revela um país suspenso num cabo improvisado, sustentado mais pela sorte do que pela competência.

Um cabo não certificado para transporte de pessoas. Uma manutenção feita à moda antiga. Travões que não travam. E, talvez o mais grave, a ausência de qualquer supervisão. Eis a anatomia do desleixo que atravessa instituições que deviam zelar pela segurança pública, mas parecem funcionar com a mesma lógica do improviso que reina no quotidiano português.

A Carris "não deu por nada". Uma frase que poderia ser gravada no brasão da inércia nacional — onde o erro é rotina, e a cegueira institucional é confundida com normalidade. Enquanto isso, o elevador sobe e desce, como a esperança de um povo habituado ao perigo, ao remendo e ao "deixa andar".

O Elevador da Glória é, afinal, a imagem perfeita de Portugal: sobe e desce, mas nunca avança. Um país preso a um cabo gasto, sem certificado de futuro. E o que falha não é apenas a mecânica — é a consciência.

"Quando um país deixa de certificar os cabos que o seguram, cedo ou tarde, descarrila."

Fonte: Relatório técnico do acidente – notícia publicada no Público em 20/10/2025.

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