As Faturas do SilĂȘncio: CrĂłnica de um PaĂ­s que Declara Tarde e Responde Nunca

Box de Factos:
O primeiro-ministro LuĂ­s Montenegro continua sob investigação no caso Spinumviva. Questionado pela SÁBADO sobre se a empresa familiar pagou despesas pessoais — como almoços, fĂ©rias ou viaturas —, nem o governante nem a sociedade responderam. A revista apurou ainda que os primeiros documentos enviados por Montenegro ao MinistĂ©rio PĂșblico chegaram apenas depois das eleiçÔes de maio.

Portugal tem uma relação especial com o tempo — aqui, a transparĂȘncia chega sempre em segunda mĂŁo. Os documentos de LuĂ­s Montenegro sĂł deram Ă  costa depois das eleiçÔes, talvez transportados por marĂ© burocrĂĄtica ou empurrados pelo vento compassivo da oportunidade polĂ­tica.

Questionado sobre faturas suspeitas, o primeiro-ministro preferiu o mais caro dos luxos: o silĂȘncio. Um silĂȘncio blindado, polido, estrategicamente discreto — desses que gritam mais alto do que qualquer discurso de inocĂȘncia.

Mas nĂŁo sejamos injustos: o silĂȘncio Ă©, afinal, o idioma oficial da função pĂșblica moral. Quando nĂŁo hĂĄ explicação, hĂĄ processo. Quando hĂĄ processo, hĂĄ indignação. E quando hĂĄ indignação, hĂĄ sempre "forças ocultas". O ciclo fecha-se, o espetĂĄculo recomeça e o paĂ­s continua a aplaudir de pĂ© a arte do nada.

Entre as linhas da investigação, a pergunta paira como poeira de arquivo: pagou a empresa as fĂ©rias, os jantares e os carros da famĂ­lia? NinguĂ©m confirma, ninguĂ©m nega — o limbo jurĂ­dico Ă© o novo paraĂ­so dos puros.

E enquanto o MinistĂ©rio PĂșblico espera respostas, o Governo responde com teatralidade ofendida. A moral da histĂłria Ă© simples: em Portugal, a transparĂȘncia nĂŁo Ă© uma obrigação — Ă© uma estratĂ©gia de imagem. Mostra-se, mas sĂł quando convĂ©m. Declara-se, mas apenas depois das urnas.

"O silĂȘncio em polĂ­tica Ă© como o ouro: acumula-se, brilha e raramente Ă© limpo."

O caso Spinumviva continua a girar, como uma roda de feira onde todos apostam, mas ninguĂ©m perde. A diferença Ă© que aqui o bilhete Ă© pago pelos contribuintes — e o prĂ©mio Ă© o esquecimento.

— Augustus Veritas & Francisco Gonçalves
Série: "Contra o Teatro da Mediocridade"


Fonte: Revista SÁBADO — https://share.google/cbIwDnCasEwP9pEdI

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