O Circo das Opiniões Vendidas

Box de Factos:
Na arena mediática portuguesa, a pluralidade serve muitas vezes de cortina para a manipulação. E quem paga a conta é sempre o espectador que ainda ousa pensar.

Há noites em que ligo a televisão e sinto que entrei num cabaré de retórica cínica. A CNN Portugal, com ares de imparcialidade cosmopolita, convida pró-russos disfarçados de analistas, generais reformados que ainda não perceberam que o mundo mudou, e figuras cuja visão estratégica é tão ampla quanto o ecrã do teleponto à frente deles.

Esses homens — quase sempre homens — falam com a autoridade de quem viveu à sombra do erário público, usufruindo das benesses de um país que lhes pagou tudo, desde o café da manhã até à reforma dourada. E agora, com gravata e cara séria, vendem ao povo uma narrativa contaminada, nojenta, indecente. Uma narrativa que desrespeita a inteligência de quem ainda acredita na justiça e na verdade.

Enquanto o país se desmorona em silêncio, as televisões montam o seu circo: generais de sofá, economistas de almanaque, e comentadores que mudam de opinião conforme a direção do vento ou do financiamento. Todos a recitar a cartilha da conveniência, a fingir independência, a normalizar o absurdo.

O problema, caro leitor, não é apenas o que dizem — é o espaço que lhes dão. Porque dar palco à mentira é torná-la respeitável, é vestir o cinismo com o fardamento da seriedade. E o resultado é este: um país anestesiado, que já nem distingue entre informação e entretenimento político de sarjeta.

Portugal merecia melhor. Merecia jornalistas que perguntassem "porquê?" e não "quanto?". Merecia debates com intelectuais livres, não com papagaios de Moscovo ou Washington. Merecia, sobretudo, que alguém desligasse o microfone aos que falam sem alma e sem vergonha.


Por Francisco Gonçalves
Série "Contra o Teatro da Mediocridade"
Publicação em Fragmentos do Caos

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