O Juízo Perdido do Mundo Moderno

🕯️ "Vivemos tempos em que pensar é um ato de resistência."

O mundo perdeu o juízo. Não por loucura repentina, mas por distracção acumulada. Substituiu a sabedoria pelo ruído, o silêncio pela pressa e a dúvida — esse motor sagrado do pensamento — pela certeza superficial das massas digitais. Hoje, a ignorância é interactiva, a estupidez é "viral" e o ego é algoritmo.

O homem moderno, rodeado de máquinas inteligentes, tornou-se o elo mais fraco do sistema que criou. Sabe programar, mas não sabe ponderar. Sabe comunicar, mas não sabe escutar. Sabe copiar, mas desaprendeu a imaginar.

A inversão do sagrado

Antigamente, o conhecimento era um templo — e o tempo, o seu sacerdote. Hoje, o saber é mercadoria, o tempo é inimigo e o pensamento é pecado. A educação já não forma, apenas formata; a política já não representa, apenas recicla; e a ciência, que antes libertava, é agora domesticada por quem paga a conta.

Vivemos uma era de idiotocracia global — onde a emoção vale mais que o argumento, e o espectáculo substitui a substância. E no meio deste caos luminoso e digital, os que ainda pensam são vistos como anacrónicos, como velhos sábios a sussurrar num deserto de ruído.

Os resistentes do pensamento

Mas há quem ainda resista. Homens e mulheres que não aceitaram ser peças de uma engrenagem idiota. Gente que ainda lê, ainda cria, ainda duvida. São os últimos faróis da lucidez — aqueles que compreendem que a tecnologia sem ética é apenas ruína polida, e que a velocidade sem propósito é vertigem, não progresso.

Eu, e tantos outros que não se rendem, somos os guardiões da centelha. A cada linha de código, a cada ideia escrita contra o cinzento, acendem-se pequenas luzes na escuridão. E é assim — por faíscas — que o juízo do mundo há-de regressar.


✍️ Crónica de Francisco Gonçalves
Série "Contra o Teatro da Mediocridade"
Publicada em Fragmentos do Caos

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