⚙️📊 — Relatório Político-Económico do OE 2026

Relatório Político-Económico do Orçamento do Estado 2026
Proposta apresentada pelo Governo à Assembleia da República · Outubro 2025
Por Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen · SofteLabs / Fragmentos do Caos
I — Síntese Política e Contexto
O Orçamento de Estado 2026 (OE 2026) nasce sob o signo da prudência, mas também da hesitação. Após uma sucessão de anos de consolidação orçamental e excedentes simbólicos, o Governo mantém o rumo do equilíbrio e anuncia um excedente de 0,1 % do PIB, prevendo a dívida pública a descer para 88 %. A estratégia é de "responsabilidade europeia" — mas o preço é a falta de ousadia interna.
Contexto político:
- Governo minoritário, pressionado por Bruxelas e por uma sociedade exausta.
- Debate público saturado de tecnicismo: a discussão sobre o défice substitui a discussão sobre o modelo de país.
- A retórica da "estabilidade" é usada como sinónimo de imobilismo.
O OE 2026 é politicamente cauteloso porque o poder que o concebeu tem medo de errar — e medo de sonhar.
II — Estrutura Económica
Crescimento e endividamento:
- Crescimento previsto: 2,3 % (otimista face ao arrefecimento europeu).
- Inflação esperada: 2,1 %, permitindo leve recuperação do rendimento real.
- Investimento público: 3,8 % do PIB, mas 60 % dependente do PRR.
- Dívida pública: 88 % do PIB, a meta-fetiche da ortodoxia orçamental.
Análise crítica: A previsão de crescimento é frágil; a economia portuguesa continua excessivamente dependente de serviços e de investimento externo. O excedente de 0,1 % é um número político, não económico — o sinal de que o orçamento serve para mostrar solvência, não para gerar transformação.
O Estado cumpre a folha de cálculo, mas falha a folha da História.
III — Fiscalidade e Justiça Económica
- Pequena descida do IRS (≈ 0,3 p.p.) nos escalões intermédios.
- Atualização dos escalões em 3,5 % (abaixo da inflação acumulada 2024-25).
- Continuidade na tributação de lucros empresariais e derrama.
- Isenção de IMT/IMI para arrendamento acessível e incentivo fiscal a quem vende para amortizar crédito.
Crítica: A política fiscal continua administrativa, não transformadora. O peso dos impostos indiretos mantém-se e a progressividade efetiva é mínima. Nada no OE 2026 enfrenta a evasão fiscal ou o escoamento de capitais para paraísos fiscais — a corrupção financeira continua fora da contabilidade moral do Estado.
Um país que cobra muito a quem trabalha e pouco a quem especula, abdica de ser justo.
IV — Serviços Públicos e Funções Sociais
- Saúde: aumento nominal de 5 %, abaixo do crescimento do PIB; falta de profissionais.
- Educação: investimento em digitalização, mas sem atrair professores jovens.
- Pensões: subida média de 4,2 %, complemento solidário +40 €, sem plano de sustentabilidade.
Síntese: preserva-se o Estado social, mas não se renova. Portugal envelhece sem projeto de rejuvenescimento.
V — Habitação e Coesão Territorial
- Reforço do Programa de Habitação (+33,8 %), dependente do PRR.
- Extensão de apoios à renda e incentivos fiscais ao arrendamento.
Falhas: ausência de política de solos, imóveis vazios sem solução, jovens excluídos do crédito bonificado.
O Estado promete casas, mas continua a construir relatórios.
VI — Empresas, Inovação e PRR
Portugal aparece entre os que mais dedicam o PRR a I&D — e entre os que menos executam. O OE 2026 mantém o discurso da inovação, mas sem novos mecanismos operacionais. Incentivos genéricos, execução lenta, PME tecnológicas esquecidas.
A inovação portuguesa vive no PowerPoint — e morre na repartição.
VII — Finanças Públicas e Riscos
- Excedente técnico vulnerável a variações de juros.
- Dependência europeia excessiva (PRR ≈ 70 % do investimento público).
- Pressão social crescente (habitação, rendimentos reais).
- Inércia administrativa crónica.
VIII — Síntese Política
O OE 2026 representa o triunfo da prudência sobre a visão. É um orçamento que procura não desagradar a ninguém, mas também não inspira ninguém. Cumpre metas europeias, ignora metas civilizacionais: equidade, conhecimento, futuro.
O Estado cumpre a folha de cálculo, mas falha a folha da História.
IX — Recomendações Estratégicas
- Reindustrialização tecnológica imediata e soberania digital.
- Reforma fiscal ética e simplificação estrutural.
- Plano nacional de habitação pública com política de solos.
- Gestão pública transparente com auditorias automáticas.
- Educação técnica e científica reformulada e dual.
X — Epílogo: a Moral das Contas
O Orçamento de 2026 é uma partitura escrita com medo de desafinar. Prefere a nota certa à melodia nova. Mas um país que vive de acertos técnicos sem emoção coletiva adoece de mediocridade.
Portugal precisa de coragem orçamental — de contas que inspirem e números que libertem.
Francisco Gonçalves · SofteLabs / Fragmentos do Caos
Outubro 2025