Trump e o império das cinzas

Quando o território vira fichas de cassino
— O império das cinzas e o cinismo de Trump
Donald Trump declarou que Vladimir Putin "ficará com parte do território conquistado" na Ucrânia, sugerindo que a guerra pode terminar com uma cedência oficial de terras ao invasor.
Fontes: Reuters, TIME, Washington Post
Trump voltou a provar que é o espelho perfeito de um mundo onde a moral é um adereço e a verdade um estorvo. Ao afirmar que Putin "ficará com parte do território conquistado", o ex-presidente dos Estados Unidos não fez uma análise — fez uma rendição moral. Disse, em linguagem de mafioso educado, que o crime compensa e que as fronteiras podem ser redesenhadas à bala se quem dispara tiver poder suficiente para sentar-se à mesa das negociações.
É a velha lógica imperial travestida de pragmatismo moderno: quem conquista, fica. Quem resiste, perde. O direito internacional? Um papel decorativo. A ONU? Um eco apagado. E a Ucrânia? Um peão descartável no xadrez sujo entre dois egos megalómanos que se julgam donos do planeta.
Trump fala como se o mapa do mundo fosse o seu tabuleiro de cassino, e as cidades destruídas da Ucrânia, as fichas com que aposta contra a dignidade humana. Cada frase dele cheira a fumo de pólvora e a notas de dólar molhadas no sangue dos civis.
O Cinismo da Paz pela Rendição
Quando alguém, com a visibilidade e o peso de Trump, propõe "aceitar o que Putin já conquistou", o que realmente propõe é um precedente — a legitimação da força. O direito de conquista volta à mesa, envolto em diplomacia cínica.
É o mesmo discurso que no século XX justificou a anexação da Áustria, os Sudetas, o desmembramento de povos inteiros. A diferença é que agora vem em versão "pós-moderna", com sorrisos de reality show e tweets programados para parecerem inteligentes.
Os Silêncios que Matam
Nenhuma palavra sobre os mortos. Nenhuma palavra sobre Mariupol, Bucha, ou as crianças deportadas. Apenas a frieza do negociador que, à falta de alma, exibe cálculo. E há ainda os que aplaudem, dizendo que ele é "realista".
Realismo seria reconhecer que cada quilómetro quadrado da Ucrânia foi pago com vidas, com história, com identidade. Não há "realismo" possível quando se trata de legitimar um ladrão armado. Chama-se traição.
Os Novos Colonialismos
Os Estados Unidos, ao deixarem Trump ditar esse discurso sem repúdio veemente, colocam-se mais uma vez como árbitros do que não lhes pertence. Dispor do território ucraniano como quem escolhe peças de um negócio é o mesmo que dispor da dor de um povo como mercadoria.
A História é clara: cada vez que os poderosos trocam terras alheias por promessas de paz, o resultado é apenas uma pausa antes da próxima guerra.
Entre a Cinza e a Esperança
Há, no entanto, uma força que nem Trump nem Putin compreendem — a da memória. A Ucrânia, ferida e resistente, não se ajoelha diante de milionários que jogam com a morte.
E nós, que assistimos, temos o dever de não aceitar o "novo normal" da barbárie. Porque quando a força passa a ditar o direito, o futuro apaga-se. E um mundo onde a injustiça é negócio, é um mundo condenado a recomeçar sempre na dor.
"Quando a mentira veste fato e gravata, o mundo precisa de poetas para gritar a verdade."
— Augustus Veritas Lumen & Francisco Gonçalves
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