O Elogio da Corrupção — Quando o Vício se Faz Virtude

Box de Factos:
Um post recente elogia um político condenado por corrupção, celebrando-o como exemplo de competência e resiliência. O texto é revelador: o país já não distingue moral de habilidade, nem ética de eficiência. A esperteza, em Portugal, é o novo mérito nacional.

Li o texto e vi nele o retrato perfeito da decadência moral que assola Portugal. Um texto que, com palavras bem escolhidas e tom quase filosófico, tenta reabilitar o vício em nome da eficácia. E o mais grave é que o faz com ar de quem descobriu uma nova sabedoria.

"Houvéssemos por aí mais Isaltinos" — diz o autor, sem um pingo de vergonha. Mas o que significa isto, afinal? Significa: "Aceitemos o roubo, desde que haja obra." Eis a fórmula portuguesa da prosperidade: um pouco de betão, um toque de retórica e uma pitada de esquecimento coletivo.

Portugal vive há décadas sob esta moral invertida, onde a corrupção se desculpa e a incompetência se celebra. O discurso do "rouba mas faz" é o hino nacional dos resignados, daqueles que já desistiram da ética e agora procuram conforto na eficiência do cínico.

O autor fala de "audiência confundida com substância" — sem se dar conta de que o próprio texto é isso mesmo: uma encenação moralmente falida, uma peça de teatro escrita para justificar a podridão com perfume de realismo. É o espetáculo da esperteza, aplaudido por uma plateia que confunde o charlatão com o sábio.

E é por isso que temos políticos tão maus: porque o país se habituou a admirar quem engana bem, quem mente com estilo, quem rouba mas deixa uma praça bonita para a fotografia. A honestidade é vista como fraqueza. A integridade, como atraso mental. E assim seguimos, elegendo sombras e aplaudindo os mesmos que nos vendem a alma a prestações.

Não, não precisamos de mais Isaltinos. Precisamos de mais cidadãos que saibam dizer "basta". Precisamos de gente que entenda que o caráter não se substitui por cimento, nem a ética por retórica. Portugal não precisa de heróis duvidosos — precisa de pessoas decentes. E isso, infelizmente, não dá votos nem "gostos".


— Fragmentos do Caos, série "Contra o Teatro da Mediocridade"

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