🧩 Box de Factos

  • 📰 Tema: A dependência financeira dos media portugueses
  • 💰 Problema: Subsídios estatais e publicidade institucional em vez de mérito jornalístico
  • ⚠️ Consequência: Submissão ao poder político e perda de independência editorial
  • 📉 Impacto: Democracia enfraquecida e cidadãos desinformados

A Morte Lenta do Jornalismo: Quando a Verdade Pede Subsídio

Máquina de escrever antiga sobre jornal - símbolo do jornalismo perdido

"Quando o jornalismo vive do poder, a verdade passa a ter salário — e a mentira, plano de carreira."

O jornalismo que perdeu a alma

Durante décadas, o jornalismo português foi símbolo de resistência e consciência crítica. Mas hoje, aquilo a que chamamos imprensa é uma caricatura do seu antigo propósito. Redacções esvaziadas, jornalistas mal pagos, direções politizadas e empresas de comunicação que vivem de publicidade institucional — eis o retrato de um sector que se diz livre, mas que sobrevive de esmolas públicas.

O jornalismo que dependia do leitor passou a depender do subsídio. E quem depende do poder para sobreviver, acaba por lhe obedecer — mesmo que o negue.

"Os media portugueses não são financiados para informar — são mantidos para alinhar."

O vício do erário público

Os apoios à comunicação social tornaram-se rotina, quase vício. Justificam-se com o argumento da "preservação da liberdade de imprensa", quando o efeito é exactamente o contrário: transformam a liberdade em dependência e a crítica em silêncio cúmplice. Cada euro estatal é uma corrente dourada que prende o jornalista ao patrocinador invisível — o Estado.

Em vez de competir por mérito, investigação ou criatividade, os media competem por subvenções, por proximidade partidária, por convites nos conselhos de administração de empresas públicas. O jornalismo tornou-se economia de favores, não de ideias.

A submissão ao poder

Quando o dinheiro vem do mesmo bolso que o poder, a crítica deixa de ser possível. Os grandes temas desaparecem das manchetes: corrupção, ineficiência pública, falências políticas. Substituem-nos as notícias fáceis, as polémicas fabricadas, as narrativas convenientes. A verdade, quando ameaça, é arquivada. A mentira, quando serve, é promovida.

O resultado é visível: uma sociedade anestesiada, onde as pessoas confundem informação com propaganda e opinião com verdade.

A democracia em coma

Uma democracia sem jornalismo independente é um corpo sem pulso. Quando os media deixam de investigar e passam a reproduzir comunicados, o povo deixa de ser cidadão e passa a consumidor. A mentira institucionalizada mata a confiança, e a confiança é o oxigénio da liberdade.

O jornalismo devia ser incómodo, inquisitivo, rebelde. Mas hoje prefere ser obediente, socialmente aceite e publicável. A notícia deixou de ser revelação — passou a ser entretenimento.

O regresso à verdade

É urgente libertar os media portugueses da dependência estatal. Os jornais e televisões devem viver da sua qualidade e da confiança que inspiram — não do orçamento do Estado. Só assim poderão voltar a ser faróis da verdade e não faróis do regime.

O jornalismo precisa de recuperar o seu antigo inimigo — o poder — e deixar de tratá-lo como cliente. Porque uma imprensa livre não pede licença, nem pede subsídio. Informa, denuncia e resiste. Mesmo quando dói.

Escrito por Francisco Gonçalves — publicado em Fragmentos do Caos.
Série: Contra o Teatro da Mediocridade

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