Quando a democracia se tornou refém das suas próprias trincheiras

Portugal de Rastos: Linhas Vermelhas, País Sem Rumo
– Portugal encontra-se sem Provedor de Justiça, cargo vital para a defesa dos cidadãos.
– Mais um juiz do Tribunal Constitucional renunciou, sinal de descrédito institucional.
– A Assembleia da República bloqueia consensos básicos, agarrada a "linhas vermelhas".
– A ascensão do Chega a segunda força política é sintoma do falhanço histórico de PS e PSD.
Portugal vive hoje um dos retratos mais tristes da sua democracia: sem Provedor de Justiça, com juízes do Tribunal Constitucional a renunciar e com um Parlamento incapaz de gerar consensos mínimos para o funcionamento das instituições. Em vez de governar, a classe política gasta-se em guerras partidárias, onde as chamadas "linhas vermelhas" servem apenas para encobrir a sua própria mediocridade.
A ascensão do Chega a segunda força política não surgiu do nada. Foi alimentada pelo vazio criado por décadas de governação de PS e PSD, partidos que se especializaram em retórica, compadrios e falta de coragem reformista. Agora, quando as instituições pedem estabilidade, o país encontra apenas bloqueio e teatro.
Num Estado sério, um impasse desta gravidade seria tratado com responsabilidade, diálogo e pragmatismo. Em Portugal, serve para mais um espetáculo de declarações inflamadas, onde cada deputado finge defender princípios intocáveis, enquanto o país se arrasta sem Provedor, sem juiz constitucional e sem direção.
Linhas vermelhas? O povo português já vive há décadas atrás de uma linha vermelha: a da pobreza, da desigualdade e da impotência democrática.
A verdade é simples: não são as linhas vermelhas que destroem Portugal, mas a falta de ética e de visão. O regime perdeu credibilidade, e os partidos tradicionais transformaram o Parlamento num ringue de insultos estéreis. A democracia que deveria proteger os cidadãos tornou-se refém de vaidades e cálculos eleitorais.
Enquanto isso, o povo assiste, cansado, descrente, e cada vez mais afastado da política. Porque em vez de soluções, só vê trincheiras; em vez de futuro, só vê bloqueio; em vez de coragem, só vê medo. Este é o Portugal de rastos: uma democracia esvaziada de substância, com instituições que se desmoronam e governantes que ainda têm a audácia de falar em "estabilidade".