Portugal, Terra de Pequenas Empresas e Grandes Sonhos: Da Sobrevivência à Excelência

Panorama do Tecido Empresarial em Portugal e o Caminho para a Produtividade Europeia
Box de Factos
- As PME representam 99,9 % das empresas portuguesas e empregam 76 % da força laboral.
- A produtividade média do trabalho situa-se em ~76 % da média da UE.
- Empresas exportadoras e com gestão profissional superam em mais de 40 % a produtividade das micro não-internacionalizadas.
1. O retrato do tecido empresarial
Portugal é um país de pequenas empresas: 95 % são micro e mais de metade têm apenas um a três trabalhadores. É um tecido vital, mas frágil. Cresce com esforço, não com escala. A produtividade mantém-se modesta — apenas 76,6 % da média europeia — e o crescimento anual continua tímido, cerca de 0,6 % ao ano.
Esta estrutura faz com que o país viva entre dois mundos: o das micro que sobrevivem à tona de água e o das poucas que inovam, exportam e geram riqueza acima da média.
2. O peso das empresas "zombie"
Uma fatia preocupante das empresas portuguesas permanece viva apenas graças a crédito tolerante ou apoios públicos. Chamam-lhes zombies: entidades que há anos não geram lucro suficiente sequer para pagar juros. Estimam-se dezenas de milhares — sobretudo na construção, comércio e serviços locais —, absorvendo recursos que poderiam alimentar empresas produtivas.
3. Produtividade por sector
Gráfico 1 – Produtividade do trabalho por setor (% média UE). Fonte: estimativas PLANAPP e INE.
Observa-se uma forte diferença: setores tecnológicos e financeiros aproximam-se ou superam a média europeia, enquanto agricultura e construção permanecem distantes. É um país onde o "core" produtivo ainda está desequilibrado.
4. Dispersão entre empresas
Gráfico 2 – Dispersão da produtividade entre empresas (Mediana vs Percentil 90). Fonte: GEE e BdP.
A diferença entre o percentil 90 e a mediana mostra a polarização: há um grupo de elite altamente eficiente e uma larga maioria que ainda opera com baixa produtividade. Essa disparidade reflecte lacunas de gestão, tecnologia e capital humano.
5. As chaves da mudança
- Gestão profissional e dados: KPIs, dashboards, planeamento financeiro e avaliação regular de desempenho.
- Digitalização: sistemas integrados (ERP/BI) e automação de processos.
- Capital humano: formação contínua, salários ligados à produtividade e cultura de mérito.
- Internacionalização: expandir mercados e integrar cadeias globais de valor.
- Reestruturação saudável: facilitar a saída de empresas inviáveis para libertar recursos e elevar a produtividade média.
6. Rumo à média europeia
Para alcançar a média europeia de produtividade, Portugal precisa de crescer 20 % em eficiência global — algo possível num horizonte de 10 anos, se a transformação digital e de gestão avançar transversalmente. O Estado deve incentivar capitalização, inovação e escala; o tecido empresarial, por sua vez, tem de abandonar a lógica de sobrevivência e abraçar a lógica de excelência.
"Produtividade não é apenas trabalhar mais — é pensar melhor, gerir melhor, inovar com propósito. É a diferença entre o país que se arrasta e o país que se eleva."