Portugal, o Orçamento da Repetição: A Economia da Corrupção e da Pobreza Planeada

Box de Factos:
Mais de 40% da receita do Estado continua a vir do trabalho.
A tributação sobre o capital especulativo mantém-se quase simbólica.
Os grandes grupos económicos acumulam isenções e incentivos fiscais.
Portugal é um dos países da Europa com maior desigualdade entre rendimentos do trabalho e do capital.

Mais um Orçamento de Estado, mais do mesmo. As mesmas vozes, os mesmos discursos, os mesmos sorrisos técnicos a justificar o injustificável. Portugal continua prisioneiro de uma elite que governa em circuito fechado — alimentada por negócios podres, nepotismo e uma corrupção que já não se esconde, apenas muda de terno e consultora.

Não é um orçamento — é um ritual. A cada outono, o país assiste à liturgia da mediocridade, onde o poder finge reformar-se e o povo finge acreditar. Prometem "reformas estruturais" e "justiça fiscal", mas continuam a sangrar o mesmo corpo: o do trabalhador, o do pequeno empresário, o da classe média que ainda tenta sobreviver entre contas e ilusões.

Enquanto isso, os capitais especulativos vagueiam livres. Os paraísos fiscais continuam a servir de santuários para os abençoados do sistema, e a fuga ao fisco dos poderosos é tratada como detalhe, não como crime. O Estado é duro com o fraco e submisso com o forte. E assim se constrói a estabilidade — a estabilidade da injustiça.

Os governantes celebram percentagens de crescimento enquanto o povo celebra o milagre de chegar ao fim do mês. A pobreza laboral cresce, os salários estagnam, e a habitação tornou-se um luxo. Tudo em nome da "competitividade", palavra que em Portugal significa: "trabalha mais, ganha menos, cala-te e agradece."

O problema do país não é económico — é ético. Falta-lhe uma elite moral, e sobram-lhe elites de conveniência. O Estado é o maior empregador do nepotismo, a política é o refúgio dos incapazes, e a corrupção deixou de ser um desvio: é um método de gestão.

Enquanto o capital dorme em offshores, o trabalho é tributado até ao osso. Enquanto se abrem avenidas de isenções para grandes grupos, o cidadão comum é cercado por taxas, selos e multas — o novo léxico da servidão fiscal.

Portugal envelhece, esvazia-se, e a sua juventude emigra. Não por falta de amor à pátria, mas por falta de esperança. Porque aqui, a meritocracia é apenas um mito contado nas campanhas eleitorais.

O país precisa mais do que de um novo orçamento. Precisa de um novo contrato social — uma refundação moral. Um Estado que premie o mérito, castigue o abuso e liberte o cidadão da escravidão fiscal em que vive. Mas nada disso virá enquanto os mesmos rostos dominarem os mesmos palcos, enquanto o poder continuar a ser um negócio hereditário, e a democracia, uma peça de teatro encenada para legitimar o saque.

Portugal continuará pobre, não por falta de dinheiro, mas por excesso de mediocridade e corrupção institucionalizada.


— Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen
Série: Contra o Teatro da Mediocridade

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