Portugal : Nascer em ambulâncias normalizado

Portugal, o país onde nascer na ambulância é um desporto nacional
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- O diretor do Serviço Nacional de Saúde, Álvaro Almeida, afirmou ser "impossível acabar com os partos fora do hospital".
- Disse ainda que "sempre nasceram bebés nas ambulâncias".
- No inverno, reconheceu, será difícil reduzir as horas de espera nas urgências.
- Entretanto, os portugueses continuam a nascer entre sirenes, buracos na estrada e promessas por cumprir.
A normalização do caos
Há frases que deviam ser estudadas em cursos de linguística política. "Sempre nasceram bebés nas ambulâncias" é uma delas. É o tipo de expressão que transforma o fracasso em fenómeno cultural. Se sempre foi assim, então deve estar tudo bem — não é preciso mudar nada.
Nasce-se na ambulância, morre-se na urgência, espera-se na fila — e o país segue em frente, embalado por sirenes e discursos.
O milagre rodoviário
Portugal é o único país onde a maternidade pode ser móvel, com vista panorâmica e travagem ABS. O parto torna-se uma experiência todo-o-terreno: curvas, solavancos, uma maca, e o hino nacional a tocar no fundo. E no final, o bebé recebe o primeiro certificado de cidadania — um recibo do SNS com o selo "Transporte de Urgência".
Enquanto isso, os hospitais fecham maternidades "por segurança", e os autarcas inauguram rotundas com nomes de santos. Quem sabe um dia teremos a "Rotunda do Parto Ambulante" — com uma escultura de um bebé a segurar uma sirene.
Urgências sem urgência
O diretor reconhece que, no inverno, as horas de espera vão aumentar. Não é uma previsão — é uma tradição. Como o bacalhau no Natal ou as promessas no discurso de Ano Novo. O sistema de saúde já não precisa de reformar-se — basta "gerir expectativas". E quando o caos é anunciado com serenidade, o povo suspira: "ao menos avisaram".
Conclusão: entre sirenes e ironias
Portugal é o país onde o improviso virou política pública. Onde a carência se mascara de normalidade, e a incompetência veste bata branca. Enquanto nascem bebés nas ambulâncias, morrem esperanças nas filas — e o som das sirenes mistura-se com o das desculpas.
"Somos um país de sobreviventes — e o parto é apenas o primeiro teste."
✍️ Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen
Série "Contra o Teatro da Mediocridade" — Fragmentos do Caos