O Carrossel da Mediocridade: Quando Portugal Vota no Passado

Box de Factos:
As sondagens para as próximas eleições presidenciais indicam Marques Mendes na dianteira. O eterno comentador político e ex-ministro surge, ironicamente, como símbolo de "renovação". Portugal, mais uma vez, parece escolher o conforto do passado em vez do risco do futuro.

Portugal vive um curioso paradoxo histórico: anseia por mudança, mas vota em quem eterniza o mesmo sistema que o amarra. A esperança é pronunciada em voz alta, mas o voto, esse gesto secreto, é entregue à continuidade — aos rostos gastos, às vozes repetidas, aos que aprenderam a sobreviver em todos os regimes, em todos os governos, e em todas as marés partidárias.

Marques Mendes lidera agora as sondagens para Presidente da República. O homem que há décadas comenta, analisa e participa no teatro político português, reaparece como figura de "consenso". Mas consenso entre quem? Entre os que temem perder o conforto do sistema. É o regresso do velho sob o disfarce do prudente, o passado embrulhado num papel novo.

O problema, caro leitor, não está apenas nos políticos — está também em nós. O eleitor português, fustigado por décadas de desilusões, vota hoje mais com medo do que com esperança. Medo do "salto no escuro", medo da ruptura, medo de arriscar um país que pensa por si mesmo. Assim, o povo confia novamente a sua voz a quem há muito a transformou em eco.

É o carrossel da mediocridade: gira, brilha, toca música... mas nunca sai do sítio. O país dá voltas em torno das mesmas promessas, dos mesmos rostos, dos mesmos discursos que se reciclam como velhas cédulas em urnas resignadas. O sistema vive — e prospera — porque o povo o alimenta, talvez por hábito, talvez por cansaço, talvez por uma desesperança que já se tornou genética.

"Portugal, ó pátria cansada de sonhos,
és o navio que volta sempre ao porto errado,
comandado por capitães que nunca partiram —
e que juram, de novo, conduzir-te ao futuro."

Enquanto a inteligência crítica não vencer o medo, e a coragem não desalojar o conformismo, Portugal continuará a votar nos mesmos que o condenaram à irrelevância. E cada eleição será apenas mais uma volta no velho carrossel — pintado de promessas novas, mas movido pela mesma engrenagem de sempre.


Artigo de Opinião de © Francisco Gonçalves | Série Contra o Teatro da Mediocridade
www.fragmentoscaos.eu

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