Portugal: O País à Espera de Si Mesmo
Portugal: O País à Espera de Si Mesmo — Ilustração simbólica

🇵🇹 Portugal: O País à Espera de Si Mesmo

Por Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen · Fragmentos do Caos / SofteLabs


Portugal não está parado — está suspenso. Paira sobre o próprio tempo, como uma sombra de glória passada e promessa adiada. Fala de futuro, mas vive no museu da esperança. Atravessa um deserto longo, onde as miragens chamam-se "governação", "crescimento" e "democracia representativa".

Há 50 anos, o país libertou-se do medo. Hoje, vive prisioneiro da mediocridade.

1️⃣ Os partidos do costume

Portugal é governado por um bipartido de continuidade — dois blocos gémeos que se alternam na administração da mesma decadência. PS e PSD são as duas faces da moeda gasta de um regime exausto. Um gere a ruína com discurso social; o outro, com verniz liberal. Nenhum ousa mudar a estrutura — porque dela depende a própria sobrevivência.

O resultado é previsível: promessas recicladas, reformas adiadas, moral de vitrine. E o povo, cansado mas ainda crente, continua a votar no mesmo jogo, esperando um milagre que o sistema não tem interesse em permitir.

Em Portugal não há alternância — há revezamento. O poder dorme sempre na mesma cama.

2️⃣ A oposição que não existe

A oposição portuguesa é uma comédia sem enredo. À esquerda, o romantismo folclórico que repete slogans do século XX; à direita, a obsessão pelo "mercado livre" que já ninguém leva a sério. Nenhum destes blocos propõe uma visão nacional, tecnológica, produtiva e ética. Limitam-se a sobreviver, berrando uns contra os outros — enquanto o país continua a afundar-se em dívidas, dependência e desilusão.

Não há ideologias — há carreiras. Não há líderes — há gestores de imagem. E o Parlamento tornou-se uma assembleia de vaidades com microfone.

3️⃣ A pobreza instalada

Setenta por cento dos portugueses vivem com menos de 1 200 euros por mês. É um número que devia envergonhar qualquer nação moderna — mas aqui é estatística "normal". As rendas devoram salários, a habitação é um luxo e o mérito é uma piada triste. O país é gerido como uma ONG europeia: dependente, subfinanciada e agradecida pelos migalhos do Norte.

A pobreza em Portugal já não é conjuntural — é política de Estado.

4️⃣ A travessia do deserto

Vivemos uma travessia longa — sem camelos, mas com PowerPoints. A desertificação não é só do território, é das ideias. Faltam estadistas, sobram gestores; falta visão, sobra cálculo. O país move-se como uma procissão cansada: cada geração carrega o andor da promessa que nunca se cumpre.

Portugal é uma terra de poetas e técnicos, mas sem arquitetos do futuro. O Estado perdeu o sentido de missão e os cidadãos perderam o direito ao espanto. Resta a sobrevivência — e a nostalgia de um amanhã que nunca chega.

5️⃣ O deserto moral

O verdadeiro deserto português não é de areia — é de vergonha. A corrupção tornou-se o idioma nacional, a indiferença o seu dialeto. Os que resistem são tratados como excêntricos; os que se adaptam, como sábios. E assim, o país vai morrendo devagar, como um velho que já nem tenta levantar-se da cadeira.

Esta não é uma crise política — é uma crise de carácter. O país envelheceu por dentro e esqueceu-se de sonhar. Ninguém fala em grandeza; todos falam em "gestão responsável" — a expressão que substituiu a palavra "coragem".

Portugal é hoje um país que administra a sua própria decadência com método e pontualidade.

6️⃣ À espera de si mesmo

Portugal está à espera — de si mesmo. À espera de uma geração que não tenha medo de romper, de pensar, de liderar com ética e inteligência. À espera de mentes livres, que recusem o teatro partidário e reinventem o país a partir do chão da lucidez.

Porque nenhum deserto é eterno. Há sempre um ponto em que o calor se torna intolerável — e o povo, finalmente, levanta-se.

Quando Portugal acordar da sua fadiga política, deixará de ser um país de resignados — e voltará a ser uma nação de construtores.

Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen
Fragmentos do Caos · Outubro 2025

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