O povo simples interroga-se a cada novo acto eleitoral!

"Há ainda algum partido com credibilidade?"
Crónica popular – por Francisco Gonçalves
Pergunta o povo, de olhar gasto e alma empoeirada:
"Há ainda algum partido com credibilidade?"
E a pergunta ecoa pelas praças, pelos cafés, pelos balcões das mercearias e nas filas do centro de saúde.
Não é um protesto, é um suspiro.
Um cansaço que já não grita — apenas observa, de braços cruzados, o teatro da política com a mesma expressão de quem vê um velho filme repetido mil vezes.
O povo já viu tudo:
os salvadores que vieram salvar-se,
os moralistas apanhados com a mão no saco,
os novos que se tornaram velhos em dois mandatos,
e os velhos que ainda fingem juventude com promessas recicladas.
O povo não lê os programas eleitorais — lê as caras, os gestos, as contradições.
E já aprendeu, com a sabedoria amarga das décadas, que a política deixou de ser vocação e passou a ser profissão.
Por isso pergunta — com ironia triste, mas também com lucidez:
"Há ainda algum partido com credibilidade?"
E a resposta, talvez, não venha dos partidos.
Talvez venha de um lugar mais fundo, onde o povo ainda acredita em si mesmo —
onde a honestidade não precisa de siglas,
onde servir o país é mais importante do que o poder,
onde o amor pela verdade vale mais do que um cargo.
Enquanto isso, o povo observa, pensa e espera.
Porque sabe que um dia — talvez —
quando a mentira se esgotar,
nascerá um novo movimento, feito de gente comum,
onde a palavra "credibilidade" volte a ter o peso sagrado que sempre mereceu.
© Francisco Gonçalves — Série Contra o Teatro da Mediocridade
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