O País Onde o Crime Espera e a Justiça Dorme

O Tempo do Crime: Duarte Lima e a Eternidade dos Culpados
Série «Contra o Teatro da Mediocridade» — por Francisco Gonçalves
Imagem simbólica — o tempo detido sobre o crime
O Julgamento que Não Vem
Três anos depois de anunciado, o julgamento de Duarte Lima volta a ser adiado — desta vez por mais sessenta dias. O juiz do processo pediu à Procuradoria-Geral da República que interpele as autoridades brasileiras sobre o motivo pelo qual o processo ainda não foi remetido na íntegra para Portugal.
Previsto para novembro de 2022, o julgamento tornou-se um caso-escola do colapso moral e logístico da justiça portuguesa: entre prazos, pedidos, e carimbos, a verdade vai morrendo lentamente, como uma testemunha esquecida na sala de espera.
O Símbolo da Impunidade
Duarte Lima não é apenas um réu; é a metáfora viva de um sistema que perdoa quem o domina. Antigo líder parlamentar, advogado de fortuna súbita, envolvido em escândalos de corrupção e acusado do homicídio de Rosalina, arrasta-se agora por entre adiamentos e pareceres, enquanto o país observa com resignação de vítima.
O tempo, em Portugal, é o melhor advogado dos poderosos. Cada adiamento é um anestésico moral. Cada silêncio, um álibi. E quando finalmente o julgamento chega, o crime já prescreveu — não por lei, mas por cansaço.
"Há crimes que matam corpos e outros que matam a própria ideia de justiça."
O País que Envelhece com os Seus Criminosos
Portugal tornou-se o país onde os culpados esperam serenamente que a justiça se distraia. A lentidão tornou-se virtude processual, e o esquecimento — a sentença final. O povo, já fatigado, vê o espetáculo como quem vê uma telenovela repetida: muda-se o nome do vilão, mas o guião é sempre o mesmo.
O caso de Duarte Lima é mais do que um processo; é um espelho. Nele se reflecte o retrato de um Estado que perdeu o sentido do tempo e da vergonha.
Francisco Gonçalves — Série «Contra o Teatro da Mediocridade»
https://www.fragmentoscaos.eu