O Xadrez de Putin — a Europa que joga com o relógio errado

"Putin está a testar a Europa e pode tentar uma invasão nos Bálticos ainda em 2025." — Garry Kasparov, ex-campeão mundial de xadrez e opositor do Kremlin

O aviso de Kasparov não é uma profecia — é uma leitura estratégica de quem entende o tabuleiro e conhece o jogador. Putin nunca move peças ao acaso: cada gesto é cálculo, cada silêncio, uma armadilha. A Europa, habituada à lentidão democrática e à vaidade diplomática, continua a jogar com o relógio errado.

Desde 2014, quando a Crimeia foi engolida sob o pretexto de "proteção das minorias russas", que o Ocidente deveria ter percebido o padrão. Mas preferiu negociar gás e adiar sanções. A Ucrânia pagou o preço do conforto europeu. Agora, os Bálticos estão no horizonte — não porque Putin precise deles, mas porque precisa de provar que ninguém o impede.

Kasparov vê o que muitos fingem não ver: a fraqueza moral da Europa. Uma fraqueza vestida de prudência, vendida como pacifismo. A União Europeia, esse gigante administrativo, confunde diálogo com rendição e acredita que a diplomacia pode convencer um tirano armado com mísseis nucleares e séculos de ressentimento imperial.

A NATO, por sua vez, reage com declarações de firmeza e exercícios militares coreografados — um teatro de músculos cansados. O problema é que Putin não teme as palavras, teme apenas o custo do fracasso. E, até agora, o custo tem sido baixo: algumas sanções, algumas mortes, e o aplauso subterrâneo de regimes que o admiram por fazer o que eles sonham.

A Europa está em xeque, mas ainda pensa que está em jogo de abertura. Continua a mover peões — discursos, resoluções, apelos à paz — enquanto o adversário já planeia o xeque-mate. O império russo não renasceu: apenas mudou de tática. Hoje conquista territórios através do medo e da dúvida, porque aprendeu que o Ocidente é incapaz de agir sem consenso — e o consenso é o último luxo da História.

A tragédia é que tudo isto já foi visto antes. Em 1938, também se acreditava que ceder um pedaço da Europa traria paz. Chamberlain regressou a Londres com o papel da vergonha na mão, e Hitler sorriu. Hoje, a história volta a repetir-se — não em preto e branco, mas em alta definição.

Kasparov diz o óbvio: só uma derrota militar russa pode travar o império. Mas o Ocidente continua a temer a palavra "vitória", como se fosse indecorosa. Fala em "negociações", em "concessões realistas", como se fosse possível negociar com a fome de poder. O pacifismo tornou-se o novo ópio das democracias.

O relógio está a contar — e não a favor da Europa. Putin joga com paciência e cinismo, porque sabe que a fraqueza do adversário é o medo da decisão. No xadrez do poder, quem hesita morre de pé, olhando o relógio a bater o fim da partida.

"A história não se repete — apenas volta a testar quem não aprendeu a jogá-la." — A.V. Lumen

📜 Publicado em Fragmentos do Caos — Série Contra o Teatro da Mediocridade
Coautoria: Francisco Gonçalves & Augustus Veritas Lumen

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