O Estado Desligado: Portugal sem Energia, sem Indústria, sem Norte

Portugal sem Chips — e sem Norte
🜂 Box de Factos
Trabalhadores do Parque Industrial da Volkswagen Autoeuropa alertam para risco de paragem de produção devido à escassez de semicondutores. Representantes sindicais pedem a intervenção do Governo e dos partidos parlamentares para enfrentar o problema que ameaça centenas de postos de trabalho.
Portugal está doente. A febre não é de agora — é antiga, enraizada nas vísceras do sistema. Uma febre que queima lentamente a lucidez, alimentada por décadas de mediocridade, de políticas sem espinha e de ministros que confundem "governar" com "administrar a decadência".
Hoje é a Autoeuropa que treme. Faltam "chips". Amanhã será outro parque industrial, outro setor, outro espasmo de uma economia dependente. Os representantes dos trabalhadores pedem a intervenção do Governo. Pedem o impossível: que um corpo político sem visão compreenda o valor da estratégia industrial.
A falta de semicondutores é apenas a superfície do abismo. Não faltam só "chips" — faltam os cérebros que os pensam, as políticas que os fomentam, os investimentos que os cultivam. Portugal vive da ilusão de que basta ser útil à engrenagem europeia. Montamos o que outros inventam, exportamos os nossos melhores engenheiros e chamamos a isso progresso.
Enquanto isso, o país continua de joelhos perante o investimento estrangeiro, mendigando fábricas e centros de montagem, como se o futuro fosse apenas um negócio de parafusos e cablagens. Somos o apêndice industrial de uma Europa que já nem sabe o que fazer com os seus próprios sonhos tecnológicos.
Os políticos, esses, falam em transição digital, em inovação, em "visões verdes". Tudo palavras de cartaz. O país continua sem um plano nacional de semicondutores, sem um ecossistema tecnológico soberano, sem uma vontade de futuro. Falta-nos não apenas o chip físico, mas o chip mental — aquele que distingue um povo conformado de uma nação criadora.
A Autoeuropa é um espelho onde se reflete o destino português: dependente, subalterno, sempre à espera que alguém traga as peças que faltam. Quando o último chip faltar, talvez percebamos que o verdadeiro apagão começou há muito tempo — dentro das nossas próprias cabeças.
— Francisco Gonçalves / Fragmentos do Caos
"Quando um país perde o seu chip, perde também o seu Norte."