O Chip Alemão e o Parafuso Português

Chip alemão e parafuso português

Chip reluzente com bandeira alemã sobre uma chave de fendas portuguesa enferrujada — símbolo da dependência tecnológica europeia.

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A escassez de semicondutores produzidos pela Nexperia ameaça paralisar a produção automóvel em Palmela e a Bosh já entrou em lay-off. No entanto, as fábricas da Volkswagen na Alemanha garantem que "a produção está assegurada esta semana". A interrupção de sexta-feira, 31 de outubro, deve-se apenas a um feriado regional, não a falta de chips.

E eis que o véu cai. A tão propalada "solidariedade europeia" mostra o seu verdadeiro rosto — o de uma raposa esperta, que guarda o queijo enquanto o cordeiro português, obediente, aguarda migalhas de silício.

A Volkswagen confirma: na Alemanha, tudo normal. O chip escasseia, mas apenas fora das fronteiras sagradas da produtividade germânica. Por cá, em Palmela, o alarme soa, os sindicatos preocupam-se, e o Governo — como sempre — finge surpresa perante o óbvio: a hierarquia industrial europeia é uma pirâmide, e nós habitamos o rés-do-chão.

Quando o chip é curto, corta-se nos fracos. As fábricas portuguesas, espanholas, eslovacas, tornam-se os fusíveis de um sistema que protege o coração industrial alemão. O que aqui é "crise de fornecimento", lá é "ajuste logístico". O que aqui é paragem, lá é feriado.

E enquanto isso, os nossos governantes — esses mestres da resignação — continuam a exibir o sorriso submisso do vassalo que confunde dependência com parceria. Orgulham-se da "presença da Autoeuropa em Portugal", mas calam o facto essencial: nós não somos protagonistas, somos figurantes no palco de Berlim.

Portugal fabrica automóveis, sim — mas fabrica sonhos dos outros, com ferramentas emprestadas e chips alheios. A dependência tecnológica tornou-se o nosso ADN económico: exportamos trabalho, importamos futuro.

A notícia de que "na Alemanha tudo está garantido" é mais do que uma frase — é um epitáfio da soberania produtiva.

E quando o chip alemão brilha, o parafuso português range.

— Francisco Gonçalves / Fragmentos do Caos


"Quando o centro se protege e a periferia sangra, a Europa mostra o seu verdadeiro mapa."

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